Fotografia
Durante 365 dias, Cristiana fotografou-se na pele de Lucie (e libertou-se)
Os auto-retratos do projecto 365 Days Lucie expressam aquilo que a fotógrafa Cristiana Lu sentiu ao longo de um ano em que estava desempregada e a viver uma pandemia.
A 21 de Fevereiro de 2021, e nos 365 dias que se seguiram, Cristiana permitiu-se ser livre. Livre o suficiente para deixar Lucie emergir. “É uma persona que sabia que tinha em mim, faz algum tempo, de todas as vezes que me deixava ficar sozinha e criava imagens”, escreve, num texto enviado ao P3.
Habitualmente, é mais introvertida, mas através da personagem que encarna consegue expressar todos os estímulos que inundam o seu campo visual e criativo. “A Lucie acabou por ser uma personificação dos temas e das pessoas que estão à minha volta”, descreve Cristiana Lu, em conversa com o P3. Ao longo de vários anos foram-se acumulando cadernos de desenho pejados de ideias — “presas em lugares secretos para outros”, mas não para Lucie que, em frente a uma lente, as projecta.
Licenciada em Fotografia, desempregada e a viver uma pandemia, a artista sentia-se “em baixo”, sem segurança e “completamente largada para o mundo”. “Tinha acabado um curso onde explorei 31 mil percursos e não sabia realmente o que eram os meus interesses definitivos. Queria tentar perceber o que é que eu tinha estado a fazer que realmente me interessava e porque é que havia tanta referência a esta personagem”, explica.
O projecto 365 Days Lucie, feito exclusivamente de auto-retratos, transformou-se num “escape”, onde, através da persona, a fotógrafa conta pequenas histórias daquilo que foi sentindo, mesmo nos dias em que se sentia “vazia”, sem conseguir “pensar em nada”. Agora, até os colegas e amigos a tratam por Lucie. Mesmo para a própria, os limites que definem onde a personagem acaba e Cristiana começa tornaram-se praticamente indistinguíveis. “Às vezes, já nem sei como é que me hei-de fotografar sem ser assim-”
O fim dos registos, a 21 de Fevereiro de 2022, não insinua a morte de Lucie. Futuramente, Cristiana, que agora trabalha como freelancer, quer materializar os retratos, reunindo-os num livro.
Texto editado por Amanda Ribeiro