A verdade dos números e a verdade das pessoas
Os resultados da banca no primeiro semestre provam, mais uma vez, o que o Mais Sindicato sempre argumentou: não havia – nem há – razões económicas para a desonrosa ofensiva contra os trabalhadores.
Os dados sobre o setor bancário recentemente divulgados devem fazer-nos refletir quanto ao presente – e, sobretudo, o futuro – dos seus profissionais, os trabalhadores bancários.
No relatório estatístico sobre as séries longas do sistema bancário português do Banco de Portugal (BdP), os números dizem mais do que qualquer argumento: entre 2020 e 2021, os bancos a operar no nosso País diminuíram os quadros de efetivos em 3027 trabalhadores, a redução mais acentuada desde 2016. No mesmo período, encerraram 350 agências.
Em 2021, considerando a atividade interna e externa, existiam 58.859 bancários. Tendo em conta apenas a atividade interna, eram 43.726 trabalhadores. Em ambos os casos, o número mais baixo desde 1990. Já as agências eram 3530, o menor número desde 1993.
Em 2021, e por quatro anos consecutivos, o setor bancário manteve resultados líquidos positivos.
Estamos a falar apenas de números. Incontestáveis, de uma fonte incontestável. Como sindicato, cumpre-nos chamar a atenção para o reverso dos números: as pessoas.
Por detrás de cada número há um rosto: um trabalhador que perdeu o emprego e, consequentemente, a fonte de rendimento da família; um bancário que foi pressionado a reformar-se antes da idade legal, baixando, assim, a pensão que lhe proporcionará o conforto dos anos vindouros; um cliente que perdeu o balcão onde sempre foi atendido e se vê obrigado a recorrer às máquinas ou à internet, sem ninguém que lhe esclareça as dúvidas e o aconselhe.
Falar das pessoas, defendê-las, denunciar as situações e lutar por todos os meios ao seu alcance é a função dos sindicatos. E nós, no Mais Sindicato, orgulhamo-nos de nunca baixar os braços e sempre, em qualquer circunstância, defender os trabalhadores.
Depois dos vergonhosos despedimentos coletivos no setor protagonizados pelo Banco Santander Totta (BST) e pelo Millennium bcp (BCP), esperava-se que, como foi anunciado, a sangria tivesse terminado.
Mas eis que chegam os resultados do primeiro semestre deste ano e, mais uma vez, os números falam por si: face a dezembro de 2021, o BST tem menos sete balcões e menos 109 trabalhadores. Já o BCP, em Portugal, tem menos 683 trabalhadores, uma redução de 9%.
No mesmo período, o BST triplicou os lucros, para 241,3 milhões de euros, que ascendem a 239,5 milhões de euros. As comissões subiram 17,9%; os custos com pessoal tiveram uma redução de 17,7%.
No BCP, os lucros cresceram mais de 500% no primeiro semestre (74,5 milhões, contra 12,3 milhões no primeiro semestre de 2021), tendo o resultado em Portugal aumentado 63%, para 174,5 milhões de euros.
Estes números provam, mais uma vez, o que o Mais Sindicato sempre argumentou: não havia – nem há – razões económicas para a desonrosa ofensiva contra os trabalhadores, que culminou nos despedimentos coletivos, que, aliás, estamos a contestar em tribunal, com a convicção de que a justiça vai ser reposta.
Por outro lado, e não menos importante, os bancos têm condições para aumentos salariais muitos superiores ao que negaram à mesa das negociações. Os lucros mostram não só a capacidade para o fazer, como o trabalho e profissionalismo dos bancários que levaram a estes resultados.
Face aos ganhos anunciados publicamente com tanta pompa, o Mais Sindicato espera que o bom-senso impere e que os bancos, agora, compensem os trabalhadores como eles merecem.
Recusamo-nos a pactuar com um setor que despreza quem tanto tem contribuído para o seu sucesso. Não aceitamos que os bancários continuem a ser dispensados, sujeitos a ritmos de trabalho doentios e com salários indignos. Este quadro não é admissível como futuro profissional. Uma certeza deixamos: não vamos ficar parados.
O autor escreve segundo o novo acordo ortográfico