Há galos de Barcelos, eléctricos e pastéis de nata no novo mapa do Valorant
Videojogo apresenta o novo mapa “Pearl” inspirado na cultura portuguesa e com várias referências a Lisboa, onde surge simultaneamente uma nova rota de arte urbana inspirada no jogo.
É a novidade no mundo gaming português: Valorant, um videojogo de estratégia pertencente à empresa Riot Games, apresenta aos seus fãs um mundo inspirado exclusivamente em Portugal. “Pearl” é o nome do mapa que, através de várias vertentes, dá a conhecer um pouco da cultura portuguesa aos mais de 14 milhões de jogadores (por mês), amantes do jogo criado em 2020.
O mapa “português” está posicionado debaixo de água, sendo que a cidade é revestida por uma cúpula, quase como se tratasse de um aquário. Já dentro da cidade subaquática é possível encontrar várias referências a Portugal: falamos dos tradicionais azulejos, os pastéis de nata, o galo de Barcelos, o eléctrico lisboeta e até mesmo Fado (Casa de Vidro, da autoria de Beatriz Silva), para além dos próprios edifícios, idealizados segundo a construção tradicional e rural do país.
Alberto Delgado, representante da Valorant na Península Ibérica e em Itália explicou ao PÚBLICO que para a criação deste mapa, “a equipa Valorant estava à procura de um lugar com costa marítima” pois a intenção passava por “situar este mapa debaixo de água”. Portugal acabou por ser escolhido após alguma pesquisa por apresentar “uma grande costa” e também por ter “uma história rica”.
Quanto às alusões culturais portuguesas que se podem encontrar em “Pearl”, Alberto explica: “Existe uma padaria, onde é possível ver através do vidro pão, mas também os pastéis de nata. Há também uma loja de música, onde é possível ouvir-se Fado, quando o jogador se aproxima. Existe ainda o tradicional eléctrico que no mapa foi convertido num café”.
Mas as menções não se ficam por aqui. Numa fusão entre a arte urbana portuguesa e o novo mapa inspirado em Portugal, é possível encontrar dois murais, no próprio jogo, criados pelos artistas portugueses AkaCorleone e por Kruella d'Enfer, e que foram simultaneamente reproduzidos em Lisboa juntamente com outros cinco que representam alguns dos agentes de Valorant.
“A arte urbana foi uma grande componente para esta campanha. A central (da produção do jogo) pensou em trabalhar com dois artistas, para ter as suas criações no jogo e para serem reproduzidas na vida real também. Mas em paralelo, queríamos decorar um pouco as cidades de Lisboa, com um toque de Valorant, e foi por isso que escolhemos cinco artistas diferentes e criámos cinco murais de diferentes agentes que se encontram no jogo”, esclarece Alberto.
Kruella d'Enfer, artista portuguesa que conta com um mural pintado tanto na vida real como no mundo virtual, contou ao PÚBLICO que para esta criação usou como referência “alguns elementos animais e plantas aquáticas”, algo dentro da ideia estipulada para o novo mapa, fazendo depois a ligação para a cultura portuguesa “através da guitarra portuguesa e de elementos arquitectónicos que se encontram no topo (do mural)”.
Os murais que se encontram espalhados um pouco por toda a cidade de Lisboa (Chelas, Parque das Nações, Olivais, Campolide e Misericórdia), para além de retratarem as personagens (Phoenix, Fade, Raze, Cypher e Killjoy), vão mais além acabando por representar a cultura portuguesa nas suas diferentes formas. Phoenix, da autoria de Luís Santos, é representado num muro em Chelas, sendo que a própria personagem surge como uma personificação de uma zona que agora renasce, depois de em tempos ter sido conhecida sobretudo pelos seus problemas. As torres de Chelas surgem ao fundo, em tons vivos, como uma homenagem à zona que viu crescer o artista.
Já o mural de Raze, do artista brasileiro Lamarca, apresenta como fundo o Arco da Rua Augusta, através de uma mistura de cores alegres e vivas. Quanto à representação artística de Killjoy, produzida pela artista Marita, é possível encontrar várias referências a Lisboa como o “amarelinho” (eléctrico) que percorre as ruas da cidade e no qual a própria personagem surge agarrada. O castelo ao fundo funciona como uma homenagem à história portuguesa e as fitas espalhadas por entre as várias casas tradicionais sugerem uma representação dos Santos Populares de Lisboa.
Pela autoria de Charrua, Fade é representada em tons mais “humanos” e não tão aproximados à representação de videojogo. Por trás da personagem surge simbolizada Alfama, mais industrial e mais rústica. Quanto ao último mural, o personagem Cypher “vigia” o vale de Alcântara e o próprio Aqueduto das Águas Livres. Neste mural reproduzido pelas mãos de Basílio, há ainda uma referência ao azulejo português.
Uma nova rota de arte urbana que acaba de nascer em Lisboa e que tem como objectivo principal colorir a cidade e, dizem os responsáveis, deixar as pessoas “orgulhosas”, mesmo que algumas não compreendam as referências daquilo que estão a observar. Esta iniciativa procura simultaneamente valorizar duas categorias muitas vezes marginalizadas: a arte urbana e o mundo dos videojogos.
Texto editado por Ana Fernandes