Sexo aos 20 anos é suposto ser fácil. Para algumas mulheres, é doloroso

Existem tratamentos para a disfunção sexual feminina, quando os médicos acreditam nas dores das mulheres. “Fazemos muitas suposições incorrectas de que os adultos mais jovens têm sexo facilmente, totalmente satisfatório, o tempo todo, quando a realidade é que muitas pessoas nesta faixa etária têm dificuldades.”

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Jonathan Borba/Unsplash

Quando Noa Fleischacker, 30 anos, de Chicago, fez sexo pela primeira vez, na faculdade, com um jovem com quem tinha começado a namorar, descreveu a experiência como “impossível”.

“Parecia que algo estava errado, não tinha nenhum sítio para entrar dentro de mim”, recorda Fleischacker.

Noa continuou a tentar durante anos com o mesmo parceiro, mas a penetração não era bem-sucedida. A única outra pessoa que sabia era ele. “Eu pensava mesmo que era a única pessoa no mundo inteiro” com o problema, diz Fleischacker. “Senti-me realmente só e envergonhada por isso. Senti que precisava de fazer tudo para manter isto em segredo e não falar sobre isso, porque me sentia mesmo muito desconfortável para explicar.”

Depois de saber que uma conhecida tinha lidado com questões semelhantes ao longo do seu casamento, acabou por ganhar coragem para falar sobre o assunto com a médica de família. “A reacção inicial foi: O teu namorado sabe como fazer sexo?”, conta Fleischacker.

O namorado sabia, explicou à médica. O sexo com penetração era demasiado doloroso para ela e eles tinham encontrado outras formas de ser íntimos.

Fleischacker é uma das muitas mulheres na faixa dos 20 e 30 anos que sofrem de disfunção sexual feminina, descrevem especialistas que cuidam de mulheres nesta faixa etária. Isto é frequentemente chocante para muitas mulheres e os seus parceiros que cresceram a pensar que os problemas sexuais afectam apenas as mulheres mais velhas.

“Fazemos muitas suposições incorrectas de que os adultos mais jovens têm sexo facilmente, totalmente satisfatório, o tempo todo, quando a realidade é que muitas pessoas nesta faixa etária têm dificuldades”, diz Mieke Beckman, assistente social e terapeuta sexual certificada pela Universidade de Michigan, que trabalha com muitas mulheres na faixa dos 20 e 30 anos.

“Disfunção sexual feminina é um termo de referência para qualquer preocupação de saúde sexual que incomoda uma mulher”, aprofunda Rachel Rubin, urologista e professora em Urologia na Universidade de Georgetown. “Engloba preocupações de saúde sexual como problemas de desejo, problemas de excitação, problemas de orgasmo e, claro, questões relacionadas com a dor”, enumera.

Até mesmo muitos médicos não reconhecem que as mulheres jovens podem ter disfunções sexuais, acrescentou Rubin, em grande parte devido à falta de educação em muitas escolas médicas e mesmo em especialidades como obstetrícia, ginecologia ou urologia.

“Há uma educação muito pobre no que se trata de condições de dor sexual ou medicina sexual em geral”, especialmente quando se trata de mulheres mais jovens, defende Rubin. “Diz-se com demasiada frequência que está tudo na cabeça delas e que deveriam beber um copo de vinho e relaxar.”

Sara Ann McKinney, professora de obstetrícia e ginecologia em Harvard, concorda. “Muitas das condições associadas à disfunção sexual feminina são demasiadas vezes atribuídas ao estado pós-menopausa, mas muitas de facto podem ocorrer antes da menopausa, e as mulheres podem passar décadas sem um diagnóstico, resultando em anos de dor e sofrimento emocional”.

Um estudo de 2008 concluiu que 24,4% das mulheres com idades compreendidas entre os 18 e os 44 anos experimentaram o que descreveram como problemas sexuais angustiantes, apenas ligeiramente inferiores aos 25,5% das mulheres com idades compreendidas entre os 44 e os 64 anos. Um estudo de 2016 estimou que 41% das mulheres antes da menopausa sofrem de disfunções sexuais a nível global. Uma grande proporção destas mulheres tem dores.

Existem várias causas para a disfunção sexual feminina. Mesmo para uma dada mulher, múltiplos factores podem somar-se. Por exemplo, “tipicamente há três razões pelas quais as pessoas têm dor com penetração pelo menos dor superficial com penetração problemas com hormonas, problemas com músculos e problemas com nervos”, diz Rubin.

Felizmente, estão disponíveis bons tratamentos. Incluem medicamentos orais e géis, injecções musculares e até procedimentos cirúrgicos, dependendo da condição. Estes tratamentos médicos são frequentemente receitados com fisioterapia e, por vezes, com terapia sexual.

“As expectativas realistas são que o sexo não deve doer, que o tratamento deve ser dado num quadro biopsicossocial isto não está tudo na sua cabeça mas o que ele faz à sua cabeça é muito significativo porque leva a muito trauma e desconfiança na comunidade médica”, disse Rubin.

A fisioterapia do pavimento pélvico, que se concentra nos músculos do pavimento pélvico, é um pilar fundamental do tratamento em múltiplas condições que afectam a função sexual, especialmente a dor. O foco da terapia para mulheres mais jovens é muitas vezes ajudar a relaxar os músculos do pavimento pélvico para permitir uma inserção mais fácil, embora isto possa variar em função do diagnóstico específico. O terapeuta avaliará primeiro a paciente, e depois fornecerá exercícios em casa, para além do trabalho realizado durante as sessões.

Infelizmente, uma questão importante é que existe um número limitado de fisioterapeutas do pavimento pélvico. Além disso, os preços de consultas terapêuticas semanais podem ser impeditivos. “É uma despesa enorme. E eu tenho um plano de saúde espantoso”, diz Nicole, 26 anos, que vive em Nova Iorque e pediu que o seu apelido não fosse usado por razões de privacidade. Nicole foi diagnosticada com disfunção do pavimento pélvico depois de procurar uma segunda opinião por causa de sexo doloroso. Apesar do custo elevado, tem regressado às sessões porque vê pequenas, mas notáveis, melhorias.

Para além do preço, muitas mulheres desconhecem que estas opções de tratamento existem. “Tenho muitas pacientes que me dizem: ‘Nem sequer sabia que havia médicos que faziam isto'”, diz McKinney. “Talvez não tenham acesso à Internet em casa ou talvez não consigam ir ao Google e entrar nestes blogues onde se fala em ‘ir a um especialista vulvar’.”

Para as mulheres jovens que têm acesso a tratamento, a maioria esperar uma melhoria significativa ou completa, dizem médicos e terapeutas. “Depende do que se passa e por quanto tempo, mas com a correcta junção dos cuidados médicos e fisioterapia, muitas das nossas pacientes ficam completamente livres de dores”, garante Stephanie Prendergast, fisioterapeuta do pavimento pélvico e co-fundadora do Centro de Saúde e Reabilitação Pélvica. “Elas estão a fazer o que querem fazer. É terrível que muitas mulheres sofram enquanto o fazem. Não posso enfatizar o suficiente a importância de não desistir”.

Uma mulher de 26 anos, que vive em Washington D.C. e pediu que o seu nome não fosse usado por razões de privacidade, começou por ignorar a dor excruciante e classificou-a como normal para um primeiro encontro sexual aos 20 anos. Levaria mais quatro anos a suportar este sofrimento antes de começar a perceber que não era normal.

“Estava demasiado tensa, demasiado seca. Algo não estava a funcionar. Achei que não estava no cenário certo, com a pessoa certa, no estado de espírito certo”, relembra-se. “Mas ao continuar a tentar ter sexo com penetração com outras pessoas, em encontros futuros, estava basicamente a ter o mesmo problema”.

Quando abordou inicialmente o tema com uma médica, ela disse-lhe para usar mais lubrificante e avançou com a consulta. Eventualmente, a dor tornou-se tão debilitante e isolante que começou a evitar sexo.

“Tive uma associação tão negativa com sexo, com falar com um parceiro sobre a possibilidade de sexo... era como um segredo. Eu sabia que não iria resultar, mas eles ainda não sabiam”, diz. “É frustrante sentir que as relações não progrediram ou terminaram devido a esta coisa que, na altura, estava verdadeiramente fora do meu controlo”.

Finalmente, aos 25 anos, foi a uma nova ginecologista que a diagnosticou com disfunção dos músculos do pavimento pélvico e a encaminhou para a fisioterapia do pavimento pélvico. Após meses de tratamento e exercícios em casa, finalmente sentiu-se confortável para voltar a namorar. Agora, com 26 anos, está com o namorado há 11 meses e tem sexo regular e sem dores. “A ginecologista foi imensamente compreensiva e até hoje é a melhor médica que já tive, e eu disse-lhe isso. Disse-lhe: “Mudou mesmo a minha vida.”

Exclusivo PÚBLICO/The Washington Post

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