Peter Brook (1925-2022) morreu a semana passada aos 97 anos. Foi um dos raros homens de teatro do século XX de que Portugal pôde seguir, embora de forma intermitente, a evolução do seu percurso estético, tendo os seus espectáculos sido recebidos muito calorosamente. Encontrei-o em Lisboa pela primeira vez em Outubro de 1970. Não veio para um espectáculo, mas para concluir com a Fundação Calouste Gulbenkian (FCT) um protocolo de apoio à criação do Centre Internacional de Recherche Théatrale (CIRT), projecto igualmente patrocinado por outras entidades internacionais, como a Fundação Ford. Madalena de Azeredo Perdigão assinalou-me a sua chegada e fui esperá-lo ao aeroporto, juntamente com Carlos Wallenstein, em nome da Fundação. Este primeiro contacto decorreu de forma muito simpática e logo combinámos uma entrevista. Resultou uma bela e longa entrevista que veio a ser publicada com grande relevo no Diário Popular (29.10.1970). Tendo vivido em Montreal, tinha podido ver, não o teatro, sobre o qual muito tinha lido, mas os filmes de Brook, alguns dos quais não passariam em Lisboa, como US (1966), sobre a guerra do Vietnam, ou Marat-Sade (1967), a partir da peça de Peter Weiss. Mas desde os últimos anos Cinquenta, no circuito dos cineclubes, tinha podido ver e rever o filme A ópera dos mendigos (1954), com Lawrence Olivier, uma versão de The beggars’ opera de John Gay (1728), que inspirara Brecht a escrever a sua Ópera dos três vinténs (1928). Esta familiaridade com a obra de Brook, embora parcial, foi-me útil para conduzir a entrevista com uma certa empatia.
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