Há mar e mar, é tão bom emigrar

As inovações quenianas já mostraram o que valem. São disruptoras e democráticas. Nascem como solução aos sistemas disfuncionais como a gestão de lixo ou acesso bancário.

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Voltei a Portugal depois de cinco anos no Quénia. A propósito da Conferência dos Oceanos, co-organizada com o Quénia, quero partilhar uma ideia. Este país mais pobre tem muito para nos oferecer.

O Quénia oferece uma alternativa competitiva a quem tem curso superior e está desempregado. Em 2019, residiam 40.533 europeus e americanos no Quénia. Sim, grande parte da população só tem a escolaridade secundária e não tem um emprego formal. Mas, dos 3,5% com formação superior, um queniano licenciado em Engenharia, por exemplo, recebe aproximadamente o mesmo que um engenheiro em Portugal.

Há trabalho nas tecnologias do futuro. O Quénia, comparado com Portugal, tem o dobro do crescimento da população. E é nesse crescimento que empresas nacionais e multinacionais apostam. O desenvolvimento de tecnologias e a indústria de serviços está a desabrochar, e espera-se que a aposta na inovação venha colher os seus frutos.

As inovações quenianas já mostraram o que valem. São disruptoras e democráticas. Nascem como solução aos sistemas disfuncionais como a gestão de lixo ou acesso bancário. O Quénia baniu os sacos de plástico e desenvolveu a tecnologia que possibilita a quem é inelegível aos olhos dos bancos poupar e transferir dinheiro.

Sobre a qualidade de vida: o Quénia tem uma extensão seis vezes maior que Portugal. É casa de desertos, de lagos, cascatas e praias paradisíacas, com muita vida selvagem. Só em Nairobi há dezenas de centros comerciais com lojas de todo o mundo, há um parque onde se fotografam leões e rinocerontes com arranha-céus no horizonte e há uma floresta para brincar e passear.

A cobertura 4G da população no Quénia é mais de 90%. Nas cidades, a tecnologia está presente e funciona. Pode-se pagar o autocarro e a conta da electricidade com o seu telefone. Pode-se ir jantar fora de Uber ou encomendar, fazer compras online ou mesmo a depilação a laser.

No Quénia constroem-se relações que duram. Hoje, como profissional estabelecida no design social, tenho um mentor queniano. A perspectiva do meu mentor é sempre fresca, humilde e útil. Fresca porque não tem o meu viés. Humilde porque cresceu no maior bairro de lata do mundo. E útil porque desenvolvimento rural, migração ou sustentabilidade são temas tão presentes no Quénia como em Portugal.

No mundo há países como o Quénia, onde se pode ir aprender, partilhar e receber. E de onde se volta mais rico, em todos os sentidos da palavra.

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