Alunos do Técnico manifestam-se por mais e melhores condições de apoio psicológico
Os alunos do Instituto Superior Técnico manifestaram-se esta sexta-feira em frente à faculdade, em Lisboa. Apelaram à implementação de medidas de apoio psicológico aos estudantes.
Mais de 50 alunos protestaram em frente ao Instituto Superior Técnico (IST), em Lisboa, com o objectivo de resolver um “problema concreto”: a saúde mental.
Segundo a organização, a manifestação surgiu depois de várias notícias na comunicação social sobre o tema da saúde mental dos estudantes e da reportagem do PÚBLICO que incidia sobre a forma como o problema assumia um grande peso naquela instituição de ensino . “A exposição do problema criou uma boa oportunidade para mobilizar os estudantes e unirmo-nos para lutarmos pelas causas que nos colocam nesta condição”, contam os alunos.
Cartazes levantados e slogans cantados através de um megafone para serem ouvidos: “nos órgãos de gestão, mais representação”; “de avaliação em avaliação o estudante vai ao chão”; “agora e sempre, os estudantes estão presentes”; “seis meses para consulta, os estudantes estão em luta”; “a saúde mental, é um problema real”; “saúde é o que queremos, nem um estudante a menos”; “o sofrimento não é pedagógico”, foram as frases mais repetidas.
O IST é conhecido pela excelência, mas o modelo de ensino tem vindo a ser contestado. Os alunos sentem que “a saúde mental não é uma prioridade para os órgãos de gestão”.
Joana Abreu, 21 anos, aluna do 3.º ano de Engenharia Física Tecnológica, explica que os estudantes estão a adquirir uma “perspectiva diferente da realidade” e a “ganhar um poder reivindicativo maior”, já que ganharam uma maior consciência da gravidade dos problemas mentais.
Pedro Fialho, 19 anos, aluno do 2.º ano de Engenharia Física, começa por dizer (a sorrir) que quando se fala no IST com amigos e familiares, a primeira coisa que dizem é: “Estudar no Técnico? Só se fores maluco!” Mas, ainda assim, elogiam dizendo que é a “melhor faculdade do país”. Se por um lado existe um grande prestígio associado, por outro, existe uma “reputação” menos boa.
“Por fim, vemos todo este sofrimento à nossa volta.” Pedro exemplifica: “Quando vemos pessoas a sofrer coisas graves, como por exemplo distúrbios alimentares, pessoas que passam dias sem comer porque têm que estudar para o exame, pessoas que deixam de tratar de si mesmas porque têm que estudar, perdem amigos e sentem-se completamente sozinhas. São problemas concretos, que têm causas concretas e que nós conseguimos ver.” Concluiu, apelando à resolução deste problema, que na sua óptica, começaria por uma análise ao ensino e que não passa por um estudo quantitativo. “Não é algo que se possa medir”, afirma.
A maioria dos jovens com que o PÚBLICO falou afirmaram que não aceitam mais “uma cultura de sofrimento”. Os estudantes pedem por isso “um reforço dos serviços de psicologia do IST e da UL (Universidade de Lisboa)” e ainda, a “redução da carga de trabalho”.
É um facto que existe uma fila de espera de seis meses para consultas de psicologia no IST. Os alunos relatam que estão constantemente “debaixo de pressão” e “cheios de coisas para fazer”.
Por outro lado, queixam-se do MEPP (Métodos de ensino de práticas pedagógicas) – o novo método de ensino adoptado pelo Técnico, em 2022. Consiste em “dividir disciplinas em duas, que resultam numa carga horária intensa, muitos laboratórios e testes todas as semanas”. Os alunos lamentaram não ter vida social, não ter tempo livre e de viverem focados no estudo intensivo para concluir o curso. “Sentimos um vazio”, é a resposta mais frequente dos alunos que o PÚBLICO entrevistou.
“Sentimos que não somos ouvidos. Sentimos que não somos pessoas, apenas estudantes. É stressante. A minha saúde mental é deteriorada de dia para dia. Sei que se precisar de apoio não o tenho”, acrescenta a Mariana, aluna do 1.º ano de Engenharia Electrotécnica de Computadores.
Se a mudança é possível, porque é que ela não é utilizada para salvaguardar a saúde mental dos estudantes? São os questionamentos dos jovens durante a manifestação.
Francisco Calado, de 24 anos, aluno de Engenharia Mecânica, partilha que sabe lidar com a pressão porque sempre fez parte do seu percurso. Contudo, conhece muita gente que “aparenta estar bem”, mas não está. Defende que, apesar de a aprendizagem ser importante, deve “combater e ter cuidado com os excessos e a saúde”.
Já para Joana Abreu, encara como “um mergulho que temos que suster a respiração e aguentar”.
A maioria dos alunos, que falaram ao PÚBLICO responde afirmativamente, que sofrem de problemas mentais e que recorrem a serviços externos de psicologia. Muito deles, sem muita regularidade devido aos altos custos associados.
Texto editado por Rita Ferreira