Por que razão deixou de ser atractivo dar aulas? Professores queixam-se de baixos salários e desvalorização social
Lara, aluna do secundário, quis saber o que pensam os docentes da profissão. Ontem levou os resultados para a cerimónia de entrega dos prémios “Inspira o teu Professor”.
Um professor inspirador? Diogo Moura, que é actualmente vereador da Câmara de Lisboa, foi um dos desafiados nesta quarta-feira, no Pavilhão do Conhecimento, em Lisboa, a contar uma história. E falou da irmã Mercedes, uma das professoras que mais o inspiraram. “Aos sete, oito anos”, contou, frequentava um externato, era uma criança tímida e não tinha a certeza de ser capaz de vir a fazer as mesmas coisas que os colegas, com mais meios económicos do que ele, fariam. A irmã Mercedes era o oposto: uma professora comunicativa que “tocava castanholas nos intervalos” das aulas e que, aos poucos, lhe incutiu o gosto pela música. Mas fez mais do que isso. “Ela dizia-me: ‘Tu és capaz de ser quem tu quiseres e estou aqui para te ajudar’. E eu acreditei.”
O vereador da Educação fez parte do júri do Concurso “Inspira o teu Professor”, uma iniciativa criada por Afonso Mendonça Reis, director-geral da associação Mentes Empreendedoras, que atribuiu quatro prémios. No último ano, as diferentes iniciativas do projecto envolveram 1571 alunos.
Diogo Moura partilhou, juntamente com outros convidados, a história de um professor que lhe marcou o percurso, para demonstrar a importância desta profissão. Foi logo depois de um debate que juntou Afonso Mendonça Reis, director-geral da Mentes Empreendedoras, Mafalda Lapa, professora da Escola Básica e Secundária da Cidadela, em Cascais, e as alunas Beatriz Lopes, do ensino básico, e Lara Coelho, do ensino secundário.
“Por que motivo faltam professores e o que pode ser feito para resolver o problema?”, foi o ponto de partida da conversa moderada por Andreia Sanches, directora-adjunta do PÚBLICO. E Lara Coelho fez o trabalho de casa: trouxe os resultados de um inquérito sobre o tema que ela própria fez a uma série de professores. Responderam 50.
Os “salários baixos”, a “desvalorização” social e o facto de serem colocados longe da sua residência foram os problemas mais referidos pelos docentes, contou Lara durante o debate. E foram também essas as razões apontadas por Beatriz para tão poucos colegas da sua idade quererem seguir a profissão. Em 20 anos, o número de alunos inscritos no ensino superior em cursos especificamente de educação baixou 70%. Beatriz acredita que a pouca atractividade da profissão para os jovens tem a ver com o que “vêem e ouvem dos professores” — que dizem também que “não têm tempo para família” e que têm cargas horárias muito pesadas.
A professora Mafalda Lapa lembrou que alguns chegam a passar “30 anos com a casa às costas” e disse que “os salários não sustentam esses custos acrescidos". A colocação dos professores nas escolas tem sido um problema que se tem reflectido nas suas famílias e carreiras — a progressão na carreira é lenta. Por tudo isto, acrescentou, a profissão já não é vista como uma profissão de destaque, como era há uns anos atrás. E a desilusão dos professores aumenta, disse, sublinhando ainda que “é importante cuidar da saúde dos professores”.
Ainda assim, Mafalda Lapa fez questão de elogiar uma profissão onde “a rotina não existe”, há “uma liberdade enorme para iniciar projectos” e todos os dias se “aprende com os alunos”.
A Campanha “Inspira o teu Professor” desafiou escolas básicas e secundárias a reflectir sobre o papel do professor e vários alunos apresentaram projectos. Nesta quarta-feira foram premiados quatro: na primeira categoria, o da Escola Secundária do Fundão ficou em primeiro lugar e os concorrentes ganharam uma visita à Radio Comercial. A Escola D. Maria II (Vila Nova da Barquinha) ganhou uma visita à TVI. Na segunda categoria, a vencedora foi a Escola Básica de Briteiros, em Guimarães, com o prémio “Education First”, um curso no estrangeiro. A família Rosas, do Agrupamento de Escolas Vale do Tamel, Alijó, conquistou o primeiro lugar na terceira e última categoria, intitulada “Geração de Inspiração” e foi premiada com um dia ao Pena Parque.
“Tenho a certeza que, tal como eu, todos os portugueses conseguem dizer pelo menos um nome de um professor que os marcou”, disse o ministro da Educação João Costa no final da sessão. O ministro falou de quatro que o marcaram em especial, sublinhou que é graças aos professores que os resultados das escolas têm melhorado, elogiou a iniciativa da Mentes Empreendedoras e fechou a conferência com um “Obrigado professores!”