O nosso grito pela paz!

A violação é entendida como uma “arma de guerra”, meio de humilhação e uma forma estratégica de combater quem se invade.

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Sim, um grito pela paz! As violações, em contexto de guerra e conflito, continuam a ser uma realidade por muito que se tenha feito desde o genocídio ocorrido na República Democrática do Congo, onde o Exército ruandês e o movimento rebelde congolês AFDL atacaram indiscriminadamente hutus que tinham fugido do Ruanda, após o genocídio de 1994, em que hutus extremistas mataram cerca de 800 mil tutsi e hutus moderados em menos de cem dias.

E as acções do Exército ruandês e do AFDL não se ficaram pelo assassínio em massa. Também cometeram violações em massa sobre mulheres e crianças — uma dura realidade que nos chegou graças ao inesgotável trabalho do médico e activista Denis Mukwege.

Mukwege, um ginecologista, alertou a comunidade internacional, repetidamente, para o que se passava na República Democrática do Congo, ao mesmo tempo que, no terreno, tentava ajudar as vítimas. Consta que chegou a realizar dez cirurgias por noite e, entre 1993 e 2003, tratou mais de 20 mil mulheres. O médico acabou por ser reconhecido com o Prémio Nobel da Paz em 2018, aproveitando para fazer uma importante declaração, com ecos em todo o mundo: “Quando as mulheres já tiveram a coragem de ultrapassar o sofrimento e apresentar queixa, é nosso dever e é o dever da humanidade ajudá-las a ir até ao fim. E ir até o fim ajuda o processo de cura. Não há cura sem justiça e sem reparação.”

Dizem que “antes” era inevitável a violação em conflitos armados. Pois que dizemos que foi, é e continua a ser. A recente invasão russa à Ucrânia, um país de um poderio bélico muito menor demonstra exactamente isso. Entre 1 e 14 de Abril, uma linha de apoio psicológico criada em parceria com a UNICEF recebeu mais de 400 chamadas que relatavam casos de violência sexual, segundo a na altura comissária dos direitos humanos da Ucrânia, Lyudmila Denisova.

Entre os muitos casos, há documentação que comprova que 25 mulheres, entre os 14 e os 24 anos, foram mantidas numa cave, durante a ocupação de Bucha, e sistematicamente violadas. Nove engravidaram. Depois da retirada das tropas russas da cidade, no início de Abril, a União Europeia recebeu uma lista com 150 nomes, entre mulheres e crianças, vítimas de violência sexual.

A violação é entendida como uma “arma de guerra”, meio de humilhação e uma forma estratégica de combater quem se invade. De todos os contextos históricos, que resultam que milhares de mulheres, crianças e homens sejam violados, é preciso estar sempre a consciencializar e a dar o poder a quem o tem para fazer a recuperação da vida destas mulheres e crianças, para além de levar os criminosos a uma justiça que ainda é parca.

Para além das nossas (activistas, artistas, médicos) iniciativas, os políticos têm de se responsabilizar por esta enorme lacuna, que continua a fazer muitas vítimas (ainda que uma só já fosse demais), promovendo estratégias e soluções.

O nosso grito da paz, porém, só se fará ouvir quando a balança da justiça e o peso das violações estiver equiparado, apesar dos corações serem muito difícil de remendar. No entanto, importa alertar, educar. E nunca desistir.

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