Pensar em grande o monumento natural das pegadas de dinossáurios da Pedreira do Galinha
É com plena satisfação que verifico o que já se fez neste monumento natural (um equilibrado conjunto de passadiços, um centro de documentação) e o que se projecta fazer (a conservação da laje). Mas muito há ainda por fazer.
A grandiosidade, espectacularidade e importância científica excepcionais deste invulgar património justificam que se pense em grande na sua musealização como um pólo de interesse turístico de nível internacional, na certeza da sua garantida rendibilidade, uma previsão realista que tem, igualmente, em conta, a proximidade (dez quilómetros) de Fátima, cujo Santuário chama, anualmente, vários milhões de visitantes.
O Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF) e a Associação para o Desenvolvimento das Serras d’Aire e Candeeiros (ADSAICA) inauguraram a 9 de Junho, pelas 15h horas, o Centro de Interpretação do Monumento Natural das Pegadas de Dinossáurios de Ourém e Torres Novas.
A renovação e requalificação deste Monumento Natural (criado em 1996 pelo Decreto Regulamentar 12/96 de 22 de Outubro) e o conjunto de projectos (piloto do Parque Natural das Serras d’Aire e Candeeiros, geoconservação das pegadas e museográfico) agora anunciados foram co-financiados pelo Programa Operacional Sustentabilidade e Eficiência no Uso de Recursos (POSEUR) e apoiados pela ADSAICA.
Estão de parabéns o ICNF e a ADSAICA. Mais vale tarde do que nunca.
Em 1996 (já lá vão 26 anos), na qualidade de director do Museu Nacional de História Natural (MNHN), concebi com o apoio, no plano da arquitectura, do professor Mário Moutinho, um programa preliminar de musealização deste geomonumento (é assim que o classifico), que submeti à apreciação de responsáveis, a diversos níveis do governo, do Ambiente, da Educação, da Ciência e Tecnologia, da Cultura, da Juventude e do Turismo, constituindo um primeiro documento onde se propunha um plano de acção a curto, médio e longo prazos, visando a implantação, no local, de uma vasta estrutura museológica e demais equipamentos de apoio. Desse programa, que se perdeu nas gavetas das administrações, constava um vasto conjunto de uma vintena ideias, das quais de momento apenas pretendo realçar quatro.
- Restauro e consolidação da camada de calcário que contém as pegadas, mediante intervenção adequada nas zonas esmagadas e/ou fracturadas pelas cargas de dinamite e sujeitas à erosão pelas águas pluviais.
- Implantação de um sistema de passadiços, sobrelevadas 20 a 30 centímetros do chão, ladeando os principais trilhos, com gradeamento, que permitissem ao visitante percorrê-los sem pisar a laje, num circuito cómodo. Esta sugestão só agora foi considerada. Acontece, porém, que pisoteio ao longo dos trilhos, directamente sobre a laje, de milhares e milhares de visitantes, nestes mais de 20 anos de abertura ao público, ladeou-os por faixas polidas de aspecto desagradável que vai levar anos a desaparecer. Já se vê na laje o efeito desagradável do pisoteio de milhares de visitantes.
- Criação de um “Jardim Jurássico” com plantas de grupos característicos do Jurássico e ainda existentes, incluindo um lago naturalizado. Da superfície da água deste lago propunha-se que saísse o longo pescoço e a cabeça de um saurópode, dispensando, assim, a execução do restante corpo do animal (a mais dispendiosa), cuja presença submersa ficaria subentendida. Este lago foi feito com uma bela forma elíptica rodeado de um bem visível e perfeito empedrado que mais parece um lago de jardim urbano.
- Criação de um Museu e Centro de Interpretação com o equipamento adequado (auditório, biblioteca e arquivo, salas de exposições e oficinas pedagógicas, refeitório, cafetaria, sanitários, etc.) e, no exterior, em complemento, um parque de merendas.
Com vista à conveniente musealização deste monumento natural assinei, em 18 de Maio de 1998, na qualidade de director do MNHN, um protocolo com o Instituto de Conservação da Natureza, o Instituto de Promoção Ambiental e a Associação para o Desenvolvimento das Serras d’Aire e Candeeiros. Esteve presente a então ministra do Ambiente, a professora Elisa Ferreira. Neste espírito, seja qual for o regime (público ou privado) da sua exploração turística, o MNHN continua a ter competência para participar na elaboração das citadas regras e na fiscalização do seu cumprimento.
Depois da visita que acabo de fazer é com plena satisfação que verifico que o que aí já se fez (um equilibrado conjunto de passadiços, um centro de documentação) e o que se projecta fazer visando a conservação da laje, justificam que se felicite vivamente os actuais responsáveis. Mas muito há ainda por fazer. Volto a dizer que a grandiosidade, a espectacularidade, a qualidade e importância científica excepcionais deste invulgar património justificam que se pense em grande. E quando digo em grande estou a pensar numa realização de projecção internacional.