Fotografia
Ao longo de 30 anos, Rita Carmo captou nos palcos “coisas pequenas em pessoas enormes”
Ao longo de 30 anos de carreira de fotojornalismo, Rita Carmo fotografou milhares de concertos. O seu olhar e a sua lente captaram detalhes imperceptíveis ao olhar público que agora partilha na fanzine dedicada à fotografia, a Kiosk Zine. "Coisas pequenas. Coisas simples. Em pessoas enormes."
Se acontece em cima de um palco onde decorre um concerto, o mais provável é não ter escapado à lente da fotojornalista Rita Carmo. "Meias rasgadas, camisolas presas por alfinetes, tatuagens com mensagens muito pequenas e que, por vezes, dizem tanto", exemplifica, na primeira pessoa, no texto introdutório de mais uma edição da Kiosk Zine, intitulada "Pormenores com a Mínima Importância", dedicada à fotografia de espectáculo.
"Tudo começou quase como uma brincadeira, uma piada", contou ao P3, em entrevista telefónica. "Eu fotografo há muitos anos para a Blitz, desde 1992, e quando chega o momento de entregar trabalho para impressão da revista tenho de rever cada foto cuidadosamente para verificar o foco. E é nessa altura que dou conta de algumas coisas que os artistas vestem, de uma tatuagem, uma cábula escrita na pele ou de um autocolante na guitarra que são imperceptíveis ao público e ficaram gravadas na imagem. Muitos desses detalhes são surpreendentes. São coisas que os fãs iriam gostar de ver, de conhecer, mas que não conseguiriam ver durante o espectáculo."
Esses pormenores que Rita Carmo captou revelam que os artistas em palco são, no final de contas, apenas "pessoas normais". "Todos temos peças de roupas que estão gastas ou mesmo rotas, ou algum objecto que alguém nos deu e que carregamos connosco por razões pessoais." O conjunto de imagens que integra a quarta edição da fanzine portuguesa, que será apresentada esta quinta-feira, 19 de Maio, com a presença da fotojornalista, pelas 19h na Casa Independente, em Lisboa, reflecte não apenas detalhes do guarda-roupa dos artistas, mas também as suas características físicas. Iggy Pop é um dos exemplos que ressalta. "Ele actua em tronco nu, por isso a pele dele está sempre em evidência. Entre a primeira vez que o fotografei, em 1994, e a última, em 2016, passaram mais de 20 anos. Na fotografia de 2016, é possível ver a textura da pele, ver as veias, e acho esse um pormenor tão interessante quanto qualquer coisa que ele vestisse."