Cansaço, tonturas e falta de ar? Pode ser sinal de insuficiência cardíaca
A insuficiência cardíaca tem uma elevada prevalência no nosso país, pelo que nunca é demais relembrar: o diagnóstico precoce e o seguimento por um especialista diferenciado pode melhorar significativamente o prognóstico da doença e a qualidade de vida dos doentes.
A insuficiência cardíaca não é uma doença. Trata-se antes de um conjunto de sintomas e sinais que o doente apresenta sempre que o coração não consegue fornecer o sangue suficiente para alimentar os diferentes órgãos do corpo. Cansaço, falta de ar, dificuldade em realizar esforços, inchaço nas pernas e tornozelos, tonturas e palpitações, são alguns dos sinais que podem indicar a presença de insuficiência cardíaca.
A insuficiência cardíaca é a forma como se manifestam diversas doenças do coração - doenças das artérias coronárias, doenças das válvulas, doenças do músculo cardíaco e doenças da membrana que envolve o coração, o pericárdio.
Se atendermos ao facto de que a insuficiência cardíaca é a forma como evolui a maioria das doenças do coração, podemos prever que a sua frequência seja elevada. Estima-se que atinja, atualmente, cerca de 1 a 2% da população mundial e cerca de 6 a 10% da população com mais de 65 anos. E em Portugal, a previsão é que até 2035 existam 480 mil pessoas com insuficiência cardíaca.
A gravidade da insuficiência cardíaca pode ser avaliada pela sua taxa de mortalidade, que ronda os 50% a 5 anos. Dito de outra forma, cerca de metade dos doentes a quem se diagnostica insuficiência cardíaca, morrem nos primeiros 5 anos. Esta taxa de mortalidade é superior à do cancro da mama nas mulheres, ou ao do cancro do cólon nos homens.
Mas o que se pode fazer para alterar este paradigma e evitar a insuficiência cardíaca?
O diagnóstico precoce assume especial importância: se é portador de qualquer doença cardíaca, mesmo que sem quaisquer queixas, deverá procurar a ajuda de um médico cardiologista que o orientará, não só no diagnóstico da doença, como também no seu tratamento.
Se não é portador de doenças cardíacas, mas sofre de Hipertensão Arterial, Diabetes, Doença cerebrovascular aterosclerótica, Obesidade ou Síndroma Metabólico, se sofreu exposição a agentes cardiotóxicos (por exemplo alguns tipos de quimioterapia), se é portador de uma variante genética para cardiomiopatia, ou se tem história familiar de cardiomiopatia, então tem risco de desenvolver insuficiência cardíaca. Nesse caso, deverá consultar o seu médico para a realização de exames de rastreio. A correção ou controlo dos fatores de risco é fundamental, porque uma vez tratados e controlados, o risco de desenvolver insuficiência cardíaca é significativamente reduzido.
Se é um doente de risco, a realização de um ecocardiograma que exclua a existência de doença cardíaca estrutural deverá ser o primeiro passo. Para além do ecocardiograma poderão ser necessários outros exames de diagnóstico como Angio TC das coronárias, ressonância magnética cardíaca, ecocardiograma de esforço, entre outros. Para a escolha adequada desses exames e para que lhe seja proposto em tempo útil o tratamento adequado, deverá consultar um médico especialista e diferenciado em insuficiência cardíaca.
Caso se confirme o diagnóstico de insuficiência cardíaca, o tratamento deve ser iniciado tão precocemente quanto possível.
Nas últimas duas décadas vários tratamentos inovadores foram descobertos. Estes tratamentos, vão desde fármacos novos até novos dispositivos que otimizam o funcionamento do músculo cardíaco.
Dada a velocidade a que hoje sucede o desenvolvimento de terapêuticas inovadoras, a orientação diagnóstica e terapêutica deverá ser efetuada, sempre que possível, por um cardiologista dedicado a esta área. Desta forma, consegue-se melhorar o prognóstico, reduzindo a taxa de mortalidade, o número de hospitalizações e, não menos importante, melhorar a qualidade de vida dos doentes.
Em resumo, se é um doente de risco ou se é portador de insuficiência cardíaca, o recurso precoce a uma consulta de Cardiologia para avaliação e instituição da terapêutica adequada, pode melhorar significativamente o prognóstico da sua doença e, muito especialmente, a sua qualidade de vida.
A autora escreve segundo o Acordo Ortográfico de 1990