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À entrada do Porto, Hazul pintou uma “passagem para outra dimensão”
A pedido da loja de produtos conventuais Adoramus, Hazul fez um mural baseado na simbologia de uma porta a caminho da Ponte Luís I. Mas a mensagem por detrás da tinta está aberta à imaginação de quem passar.
No centro histórico do Porto, a caminho do tabuleiro superior da Ponte Luís I, a parede de um edifício renasceu pelas mãos de Hazul Luzah. Sob a curadoria de @kitato (Luís Octávio Costa, jornalista do PÚBLICO), o artista ilustrou no início de Maio uma porta de entrada na cidade para lembrar a simbologia da passagem para algo melhor.
O projecto nasceu pela vontade de “dar arte à cidade”, como explica ao P3 Filipe Ferreira, proprietário da loja Adoramus, dedicada a produtos artesanais feitos em conventos, a quem pertence a parede usada para o mural. Desde que abriu o negócio na Avenida Vímara Peres que queria criar naquele espaço “discreto” e um pouco escondido “algo único que tivesse uma ligação com a loja”. A proposta foi lançada ao artista, apelando à criação de algo que se relacionasse com a vida de clausura. “O tema seria amor e o silêncio", diz Filipe Ferreira.
Perante este pedido, o artista urbano deu vida a Limiar, que mostra um "local de passagem", mas está aberto à imaginação de cada um. "Não é só essa interpretação mais literal do que é uma porta, mas também a parte mais filosófica", diz. E completa: "A vantagem de fazer um símbolo tão universal é que tem várias camadas, tanto a mais literal e física, da entrada na cidade, como também uma mais metafísica, que tem mais a ver com a ideia de que podemos mudar e passar para outro sítio."
Assim, a mensagem que quer passar é a possibilidade de "sairmos do nosso quotidiano, que às vezes pode não ser o ideal", rumo ao que se desejar. "A porta significa essa passagem, em frente, para outro sítio", para "mudar o estado de alma" ou "passar para outra dimensão mental".
Sobre esta parceria, Filipe Ferreira diz que "há desafios que são para as pessoas certas" e Hazul "não foi bem uma escolha, mas uma sintonia". "Ele abre a porta, no imaginário dele, para a clausura e o silêncio [do mosteiro]", diz, completando que, na sua visão, este símbolo é a "entrada num mundo".
Ao contrário de muitos artistas, Hazul faz questão de pintar "perspectivas intemporais", tentando "não ser muito influenciado" pelo quotidiano. Espera que "daqui a 500 anos" aquela pintura seja vista e "faça sentido para poder ter interpretações diferentes, adaptadas à época". Mas, por agora, quer apenas ajudar a melhorar "o local, a passagem e o dia-a-dia das pessoas".
Texto editado por Amanda Ribeiro