Putin faz discurso curto sem declarar guerra, reivindicar vitória ou mencionar a Ucrânia
Dia da Vitória marcado com a habitual parada militar em Moscovo e um discurso do Presidente russo, Vladimir Putin.
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Como esperado, o Presidente russo, Vladimir Putin, aproveitou o discurso do Dia da Vitória, comemorando a derrota da Alemanha nazi em 1945, para estabelecer uma comparação entre a vitória das tropas soviéticas sobre as tropas de Hitler e a actual invasão russa da Ucrânia. Ao contrário da especulação dos últimos dias, não fez anúncios formais sobre a ofensiva que as suas tropas levam a cabo na Ucrânia.
“Hoje, estão a lutar pelo nosso povo no Donbass, pela segurança da nossa pátria. O dia 9 de Maio de 1945 ficou para sempre escrito na História pela vitória e união do povo soviético, isto tem muito valor para o nosso povo”, disse Putin.
O Presidente russo acusou ainda os países da NATO de “não quererem ouvir” a Rússia e de terem planos “diferentes”: “Estavam a preparar uma invasão dos nossos territórios históricos, como a região da Crimeia”, que a Rússia anexou em 2014 numa acção não reconhecida pela comunidade internacional.
“Em Kiev estavam a dizer que poderiam obter armas nucleares e a NATO começou a expandir-se para perto de nós e tornou-se uma ameaça óbvia para o nosso país e as nossas fronteiras. Tudo nos estava a indicar que havia uma necessidade de lutar”, disse ainda Putin, continuando a justificar a intervenção, que se centra agora no Leste do país.
Mais significativo do que Putin disse – repetiu argumentos já usados –foi o que não disse: não fez nenhuma declaração de guerra, ou de vitória, ou de mobilização geral militar para a ofensiva militar na Ucrânia, sublinhou o analista Dmitri Alperovitch.
Putin também não referiu uma única vez a palavra Ucrânia em todo o seu discurso, apontou o chefe da delegação do Financial Times em Moscovo, Max Seddon.
“Nada de novo no discurso de Putin, nada que não tenhamos ouvido antes”, comentou pelo seu lado a analista Hanna Notte, concluindo que há “uma mistura de alívio e ansiedade” depois do discurso.
Também ausente do discurso foi a palavra vitória, notou Max Seddon. “Foi a maior ausência do discurso”, opinou. Putin “disse que as tropas russas estavam a lutar heroicamente no Donbass, mas não mencionou Mariupol ou outros territórios que a Rússia conquistou”, segundo Seddon.
Já a analista militar Katarzyna Zysk disse à emissora britânica BBC que não foi surpreendente ver repetidas neste dia as falsas acusações contra a NATO “e a invenção dos ucranianos nazis”, com a Rússia apresentada como vítima, o que “também serve para justificar e dar algum sentido a esta guerra”.
Para Zysk, outro ponto interessante foi Putin ter dado a entender que a Rússia está em guerra com a NATO, e não só com a Ucrânia.
Hanna Notte afirma que neste momento “não se podem tirar, ainda, conclusões com base neste discurso”. Isto não quer dizer, avisou, que em breve não se sigam anúncios de outras instituições do Governo russo.