Paixão & poesia: Sam Peckinpah e Mike Siegel

O alemão Mike Siegel, obcecado pela obra de um dos malditos do cinema pós-clássico americano, estará nos Encontros Cinematográficos do Fundão de 11 a 15 de Maio e na Cinemateca a 17.

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Siegel apresentará o seu monumental memorial sobre o maverick incomparável, bem como a estreia nacional de The Osterman Weekend — Director’s cut Mike Siegel

Herdeiro assumido do “cinema de guerrilha”, tal como Robert Rodriguez o estabeleceu nos anos 90 do século passado, Mike Siegel tem-se dedicado nas últimas duas décadas a um projecto de pura paixão e de pura poesia: um imenso e ternurento memorial dedicado a Sam Peckinpah. Tem muito de “pagamento de dívidas” a um tipo de cinema e a uma sensibilidade que diz muito a Siegel, mas também é um repositório de justiça a uma obra e a um homem a quem os clichés têm cegado o essencial: o segredo e a pura poesia e visceralidade presente em cada um dos seus filmes ou séries para televisão. Quando Siegel recebeu, digamos, este chamamento, deu tudo por tudo para que a empreitada fosse para a frente, não podendo negar-se a esforços. Acto contínuo, vendeu objectos pessoais preciosíssimos, como cartazes raros, fotografias e outros artefactos da sua colecção pessoal dedicada ao cinema, para poder voar até aos EUA e entrevistar actores, técnicos, amigos, biógrafos, a filha Lupita, entre muita gente ligada a Peckinpah. Quando não conseguiu deslocar-se, por falta de dinheiro ou porque o acontecimento se deu em cima da hora, pediu a amigos para se dirigirem a certo local, ligarem a câmara, as luzes e o som, realizando ele por telefone em alta-voz — foi o que aconteceu no caso de Kris Kristofferson. Sem orçamento oficial, sem produtora que não a própria, munido de muita vontade e determinação — “com uma ideia e uma câmara na mão”, diria Glauber Rocha — e obviamente com uma paixão e um brilho nos olhos que lhe permitiram conquistar cada um dos seus heróis que pareciam à primeira vista inacessíveis — por exemplo: L.Q. Jones teimava em receber dinheiro até saber que Ernest Borgnine participara de borla e então a “ciumeira” fê-lo dizer imediatamente “sim”; Siegel encontrou por acaso num Festival de Berlim outro maverick, Monte Hellman, e percebeu que o seu percurso igualmente sinuoso, doloroso e aventureiro estava marcado no timbre e no peso da sua voz e então seria perfeito pedir-lhe comentário off — a odisseia tornou-se, e continua ano após ano, monumental. Até o próprio Siegel confessa ter dificuldade em saber de memória os filmes que já dedicou a Peckinpah.

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