Mário Cruz criou “um espaço aberto” para a fotografia em Lisboa. É a Narrativa

O projecto do fotojornalista Mário Cruz começou por ser uma masterclass sobre fotografia documental. Agora, a Narrativa é um espaço na zona da Avenida de Roma onde todos podem apreciar e aprender mais sobre fotografia de forma gratuita.

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Mário Cruz, fotojornalista que criou a Narrativa Rui Gaudêncio

Foi depois de dinamizar três edições bem-sucedidas de uma masterclass sobre fotografia documental que Mário Cruz decidiu que estava na altura de criar um local verdadeiramente dedicado à apreciação e discussão de fotografia que também “pudesse ser uma plataforma de lançamento para fotógrafos emergentes”, em Lisboa. O fotojornalista, vencedor de dois prémios World Press Photo, quis fundar “um espaço aberto” que compreendesse “todas as áreas de intervenção fotográfica” e que incentivasse a “literacia visual”, através de exposições, conferências, formações e uma biblioteca de acesso livre.

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A biblioteca é de acesso livre Rui Gaudêncio

Assim surgiu a Narrativa, na zona da Avenida de Roma, onde “uma pessoa pode entrar, ver um livro de fotografia, beber o seu café e trocar ideias sobre os seus projectos e sobre os projectos dos outros, de forma gratuita”, preenchendo um vazio que Mário Cruz sentia na área da fotografia em Portugal desde o início da sua carreira. Tudo para “valorizar, entender e comunicar” a fotografia.

“Quando estudei Fotojornalismo, senti que não tinha apoio. Eu queria ver livros de fotografia e tinha imensa dificuldade em encontrá-los em Lisboa. Acho que uma pessoa não tem de estar inscrita numa escola para ter essa informação, porque ela deveria estar disponível. A Narrativa é uma resposta a isso, tem tudo para se tornar uma referência nesse sentido”, explica o fotógrafo.

A inauguração foi no dia 25 de Abril e “não podia ter tido um balanço mais positivo”, diz Mário Cruz. Para a primeira exposição, que pode ser visitada até 4 de Junho, o fotojornalista optou por apresentar os seis projectos da última edição da masterclass que orientou, da autoria de André Dias Nobre, Filipa Leite Rosa, Alex Paganelli, Mauro Silva, João Pedro Cardoso e Maria Beatriz de Vilhena.

“São trabalhos muito diferentes, com linguagens muito diferentes”, descreve. “Temos pessoas que vêm de áreas muito diferentes, desde o design, à arquitectura, física e outras que se dedicam exclusivamente à fotografia, obviamente. Portanto, é sempre muito interessante formar estes grupos, acho que a Narrativa está a mostrar muita qualidade de edição para edição.”

As próximas exposições ainda não têm data prevista, mas já se sabe que a agenda inclui uma mostra dos 30 anos de fotografia do PÚBLICO e a apresentação na íntegra de Habibi, do fotógrafo italiano Antonio Faccilongo, série que aborda as relações amorosas no território ocupado da Palestina e foi considerada a história do ano no World Press Photo de 2021.

“O objectivo é crescer, crescer, crescer”

Mário Cruz espera também que este projecto ajude a dar um novo fôlego ao mundo da fotografia, incentivando os jovens a explorar o seu fotógrafo interior. “A Narrativa, embora tenha este espaço físico, que é a sua casa, quer ir a outras zonas e trazer essas zonas para dentro — isso vai acontecer com jovens, sobretudo de zonas de intervenção social. São pessoas que, se calhar, não têm tanta oportunidade de chegar até aqui e de terem conhecimento daquilo que queremos fazer”, diz o fotojornalista, revelando a intenção de criar um jornal comunitário com jovens entre os dez e os 15 anos em Setembro.

Rui Gaudêncio
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Rui Gaudêncio

“Vamos convidar editores de jornais para darem o seu contributo, para passar o poder da comunicação a esses jovens. Dar-lhes as ferramentas para comunicar aquilo que sentem, aquilo que vêem, aquilo de que têm medo, que os magoa.” Estão também previstas oficinas pontuais para crianças entre os cinco e os dez anos, onde se vai olhar para a fotografia como “pura criação”, conferências, workshops e, claro está, a masterclass, que se vai realizar em Setembro, com as inscrições a abrir em Agosto.

Para já, este espaço tem “apenas um ano de vida garantido” e para continuar em funcionamento apela a contribuições e donativos. Apesar do apoio da Fujifilm Portugal, que sempre foi “um parceiro importante”, Mário Cruz afirma que tal não é suficiente para sustentar o projecto a longo prazo. Também é possível doar livros de fotografia para acrescentar ao acervo da biblioteca, que está em constante crescimento. “O objectivo é crescer, crescer, crescer. Ainda temos muito espaço na biblioteca e a estante pode e deve aumentar.”

A Narrativa está aberta de terça-feira a sábado, das 10h às 13h e das 14h às 17h. A entrada e os acessos tanto à biblioteca como às exposições são gratuitos, assim como as oficinas para menores de 15 anos. Porque, para Mário, é importante que este não seja um “espaço comercial”, que apele ao consumo.

Texto editado por Amanda Ribeiro

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