Guterres foi brindado com explosões na sua jornada em Kiev

O secretário-geral da ONU estava com Zelensky quando dois mísseis disparados da Crimeia superaram as defesas antiaéreas da capital e feriram pelo menos dez pessoas. Chocado, Guterres pediu que Kiev seja “poupada”.

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António Guterres e Volodymyr Zelensky em Kiev UKRAINIAN PRESIDENTIAL PRESS SERVICE/Reuters

Estava o secretário-geral das Nações Unidas com o Presidente ucraniano quando dois mísseis russos disparados desde a Crimeia ludibriaram as defesas da capital ucraniana atingindo Lukianivka, no sudoeste de Kiev, de acordo com Oleksii Arestovich, conselheiro do chefe de gabinete do Presidente Volodymyr Zelensky. Segundo o Serviço de Emergência Ucraniano, dez pessoas ficaram feridas no ataque que poderia, no entanto, ter sido pior se um outro míssil não tivesse sido interceptado.

“O que importa não é se o secretário-geral está, ou não, na capital ucraniana. O importante é que houve um ataque”, reagiu António Guterres, admitindo que as explosões o “chocaram”.

“Esta cidade deve ser poupada”, pediu o secretário-geral da ONU, que preencheu muito do que disse na Rússia e na Ucrânia, nas visitas desta semana, com apelos à paz, mas que deixou demonstrado a sua impotência e a das Nações Unidas para conseguir concretizar esses desejos pacifistas num conflito que parece estar para durar.

Mais tarde, o Kyiv Independent haveria de referir que teriam sido três mísseis a explodir em áreas diferentes da província de Kiev. E a Associated Press avançava que as explosões tinham feito um morto.

Apostando quase todas as suas fichas na abertura de um corredor humanitário de Mariupol que permita retirar os civis cercados no complexo metalúrgico Azovstal, Guterres espera que as negociações complexas cheguem a bom porto e se abra realmente esse corredor humanitário.

Algo que não será fácil, tendo em conta que os ucranianos querem retirar todos os que estão na Azovstal, civis e militares, e os russos só permitem a saída dos civis e não querem ver escapar-se-lhes por entre os dedos as forças do Batalhão Azov que restam na fábrica.

“Pela primeira vez, trabalha-se a sério com os dois lados para salvar pessoas”, disse o secretário-geral da ONU, criticando os que entendem a política como uma “feira de vaidades” e insistindo que este foi o momento certo para visitar a Ucrânia, desviando as farpas de quem o acusou de inércia nos dois primeiros meses do conflito.

“O que está fundamentalmente errado é a guerra”, disse Guterres. “Não percamos tempo com cada árvore, olhemos para a floresta. A floresta é a guerra, e a guerra é inaceitável, tem de acabar o mais depressa possível.”

MNE ucraniano diz que bombardeamento de Kiev durante visita de Guterres foi “acto hediondo de barbárie”

O ministro dos Negócios Estrangeiros ucraniano, Dmitro Kouleba, classificou de “acto hediondo de barbárie” os bombardeamentos desta quinta-feira a Kiev por parte das forças russas, enquanto decorria a visita do secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, que causaram pelo menos dez feridos.

“Com este acto hediondo de barbárie, a Rússia mais uma vez demonstra a sua atitude em relação à Ucrânia, à Europa e ao mundo”, escreveu o ministro dos Negócios Estrangeiros ucraniano na rede social Twitter.

Mikhail Podoliak, conselheiro de Zelensky, também recorreu ao Twitter para condenar a acção russa: “Ontem [António Guterres] estava sentado na mesa longa no Kremlin e hoje explodem mísseis em cima da sua cabeça”.

Notícia actualizada às 01h03 com os comentários dos representantes ucranianos.

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