Da vinha ao copo, com o Tâmega a acompanhar
Do alto da adega da Quinta de Santa Cristina, a vista perde-se entre a encosta coberta de vinhas e a paisagem que nos situa nas terras de Basto. A visita é imersiva, pelo aroma dos vinhos e pelas águas do Tâmega.
À chegada a Celorico de Basto, as vinhas vão guiando o caminho até ao alto onde se impõe a adega da Quinta de Santa Cristina, abençoada por uma pequena capela à entrada. A anfitriã Mónica Pinto conta a história da ligação da família à quinta. Primeiro, o avô materno, natural de Celorico, que produzia vinho a granel. Depois o pai, António Pinto, que em 2004 decide assumir as quintas da família.
Ao cabo de nove anos, deixa de fazer sentido encaminhar a produção das seis propriedades para uma adega externa e é construída a adega que é hoje sala de visitas. Antes de descobri-la, porém, um desafio: rafting no Tâmega, uma das propostas do cardápio de turismo activo da quinta. Que a aventura comece.
Andanças e mudanças
Com o monte da Senhora da Graça à espreita do lado de Mondim, parte-se de Celorico para descer o Tâmega, navegando na fronteira que separa os dois concelhos. A uni-los, o património natural e a vontade de afirmar o potencial da região através do turismo activo. A Emotions é o parceiro da Quinta de Santa Cristina para as actividades mais radicais. Há wine tours em jipe ou buggy e, para os mais aventureiros, canyoning e rafting complementam a visita à adega e a prova de vinhos e de produtos regionais.
Pires é o timoneiro de serviço. O briefing não é só técnico, traz também algum contexto histórico-natural. Pires faz parte do sítio e o sítio faz parte dele, especialmente aquele percurso aquático. Ao longo dos anos, houve reivindicações, lutas e conquistas. Hoje, o incerto Tâmega, que facilmente surpreendia ambas as margens, está calmo, tímido, com o caudal lamentavelmente baixo. Há barragens acima e abaixo daquela secção do rio, a única onde a vida selvagem tem garantia de algum sossego. A pesca, outrora tradição, foi proibida. Uma garça foi vigiando o barco, as lontras, prudentes, não se quiseram mostrar.
À esperada adrenalina do rafting, sobrepôs-se uma estranha sensação de melancolia. Com a água a conduzir o barco de forma mais serena, é possível usufruir melhor da inacreditável beleza rochosa do vale. O silêncio, as vinhas e os empreendimentos turísticos ajudaram à conversa e ao (re)conhecimento do meio. Pires não tem dúvidas: o motor possível para o desenvolvimento da região passa pelo rio e pelas actividades a ele ligadas, mas de forma indissociável de quintas, restaurantes e alojamentos.
Espaço para crescer
Criar ligação com os outros produtores da região, recorda Mónica, não foi fácil de início. Com experiência numa área de negócio totalmente distinta, a família Pinto foi investindo na inovação e em dotar a nova adega de capacidade para um possível crescimento, no futuro.
Para já, a política é vender em Portugal e fora da grande distribuição. No entanto, a adega tem capacidade para 1 milhão de litros, o dobro da produção actual. Na moderna adega, há um lagar à antiga, de granito, para pisar as uvas tintas. Brancos e rosé sofrem processos mais industrializados, que se a visita acompanha sem segredos: “Da videira ao copo, gostamos de explicar todo o processo”, conta Mónica.
A Quinta de Santa Cristina não se esgota numa só visita. O enoturismo, conta Mónica, surgiu por acaso, na viagem a uma feira internacional. Veio com a ideia de desafiar uma amiga para dinamizar as visitas às vinhas. Hoje, além dos programas com a Emotions, também se pode “voar” pendurado num cabo a 150 metros do chão no Pena Aventura Park e terminar a provar vinhos na quinta - ou, no caso dos programas pensados para famílias com crianças, a provar sumos.
A degustação de produtos regionais, com versão vegetariana disponível, acompanha os vinhos da casa, e a prova pode ser feita em modo piquenique na vinha. Uma experiência imersiva.