Boris sobreviveu a quatro campos de concentração nazi. Morreu, aos 96 anos, na “desnazificação” de Putin
Aos 16 anos, Boris Romantschenko foi deportado para um campo de trabalho forçado na Alemanha. Seguiram-se três outros campos, aos quais conseguiu escapar com vida. Morreu na última sexta-feira, aos 96 anos, após o edifício onde residia em Kharkiv ter sido bombardeado pelas forças russas.
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Escapou à morte pelas mãos de Hitler, sobreviveu a trabalhos forçados e à detenção em quatro campos de concentração na década de 1940. Na semana passada, aos 96 anos, Boris Romantschenko morreu num ataque da Rússia à Ucrânia, cuja justificação para a invasão dada pelo presidente russo Vladimir Putin é a da “desnazificação” do país vizinho. Foi morto quando um míssil russo atingiu o prédio onde morava, em Kharkiv.
“É com horror que relatamos a morte violenta de Boris Romantschenko na guerra na Ucrânia”, declara a Fundação pelos Memoriais de Buchenwald e Mittelbau-Dora no seu site. A organização com sede em Weimar, na Alemanha, e que tem como função a preservação da memória e dos sítios onde o horror nazi foi perpetrado, tomou conhecimento da morte de Romantschenko pelo seu filho e neta.
A “morte horrível” de Romantschenko, continua a declaração, “mostra quão ameaçadora a guerra na Ucrânia é para os sobreviventes dos campos de concentração”. A fundação, juntamente com outras, criou uma rede de ajuda que distribui alimentos e medicamentos às vítimas ucranianas da perseguição nazi. Agora, está a preparar-se para ajudar os ucranianos a fugir em direcção à Alemanha, avança a AFP, que acrescenta que de acordo com a fundação, na Ucrânia residem cerca de 42 mil sobreviventes do Holocausto.
Romantschenko nasceu em 1926 em Bondari, perto da cidade de Sumy, no norte da Ucrânia. Segundo a fundação, em 1942, aos 16 anos, embora não fosse judeu foi deportado para a cidade alemã de Dortmund, onde foi obrigado a fazer trabalhos forçados. Quando tentou fugir, foi capturado e enviado para Buchenwald, perto de Weimar, na Alemanha central, em Janeiro de 1943.
Mais tarde, seria enviado para Peenemünde, um centro de investigação militar, onde participou na construção do V-2 Rocket, o primeiro míssil balístico de longo alcance do mundo. Estive ainda detido noutros lugares como Dora-Mittelbau, originalmente uma extensão de Buchenwald, e Bergen-Belsen, um campo no norte da Alemanha que começou como um espaço para prisioneiros de guerra e em 1943 se tornou num campo de concentração.
A fundação não explica como Romantschenko sobreviveu a Bergen-Belsen, que foi libertada em Abril de 1945 pela 11.ª Divisão Blindada britânica, ou o que fez depois da guerra. Contudo, durante muitos anos, o ucraniano colaborou de maneira activa com a fundação na formação das gerações mais novas sobre o que foi o nazismo, foi ainda vice-presidente para a Ucrânia de um comité internacional de sobreviventes de Buchenwald. Em 2015, numa cerimónia, recitou um juramento feito pelos sobreviventes do campo, que ficou conhecido como o Juramento de Buchenwald. Aquele concluía com uma promessa: “Construir um novo mundo de paz e liberdade é o nosso ideal.”
O sobrevivente morreu no passado dia 18, na sua casa, que foi atingida. Até domingo, 2421 vítimas civis foram registadas na Ucrânia pelas Nações Unidas, incluindo 925 mortes. No fim-de-semana, os meios de comunicação social em Kharkiv, citando as autoridades da cidade, avançaram que morreram 266 pessoas, incluindo 14 crianças.
Exclusivo PÚBLICO/The Washington Post
Tradução: Bárbara Wong