Junto ao Bois de Boulogne, em Paris, no espaço museal concebido pelo arquitecto Frank Gehry, a Fundação Louis Vuitton propõe neste momento uma imensa exposição dedicada aos coleccionadores russos Mikhail Morozov (1870-1903) e Ivan Morozov (1871-1921), que tiveram o gosto e a inteligência de coleccionar obras dos artistas que constituíram as vanguardas da passagem do século XIX para o século XX, de Gaugin a Matisse e Picasso, pintores então ainda bem longe da consagração que a história decretou, e assim se justifica o título da exposição La collection Morozov- Icônes de l’art moderne. Esta abertura dos Morozov traduz uma postura audaz, que muito impulsionou a própria produção parisiense e russa, já que a colecção foi sendo construída sem inclinação para futuras vendas especulativas, impensáveis naquele momento com este tipo de arte, ditada apenas por um gosto apurado. Em 2018, a Fundação tinha proposto a colecção de um outro coleccionador russo do mesmo período, Serguey Tchoukine (1854-1936), que actuava com idêntico critério e inspirou os Morozov, sendo possível afirmar-se, hoje, perante estas aquisições, que as suas escolhas condicionaram a sorte e o perfil da arte moderna. Para melhor se entender a visão destes coleccionadores, bastará recordar que foram contemporâneos de Calouste Gulbenkian (1869-1955), que não foi mais longe que um quadro de Auguste Renoir e dois de Edgar Degas, a julgar por quanto mostra o Museu Gulbenkian. Com o regime soviético, estas colecções foram confiscadas e ocultadas, e só nos anos 70 começaram a vir a público. No tempo dos coleccionadores, estes facultavam visitas regulares dos amadores e dos artistas a suas casas.
O contributo do PÚBLICO para a vida democrática e cívica do país reside na força da relação que estabelece com os seus leitores.Para continuar a ler este artigo assine o PÚBLICO.Ligue - nos através do 808 200 095 ou envie-nos um email para assinaturas.online@publico.pt.