Gran Turismo 7 — um hino à paixão que há pelos automóveis
O novo Gran Turismo é tecnicamente rico e de jogabilidade refinada. O comando DualSense da PS5 permite sentir as corridas como nunca antes foi possível.
Longe da PlayStation 5 e sem o comando DualSense, o Gran Turismo 7 (GT7) continua a ser um desafio. Como ganhar um quarto de segundo ali, como afinar o carro acolá. Como melhorar e progredir é a corrida de cada um. Com a consola ligada e o comando nas mãos, a mais recente criação de Kazunori Yamauchi transforma-se num hino à paixão pelos automóveis.
A saga começou em 1997 na PlayStation. Gran Turismo e PlayStation eram nomes indissociáveis, unidos para alimentar a ilusão de conduzirmos os bólides dos nossos posters. Mudaram-se as consolas e as vontades, e a relevância tornou-se mais difícil de manter. Ao sétimo capítulo, a série é novamente uma montra do que o hardware consegue fazer.
A maior parte do desafio joga-se no Mapa Mundial, onde se encontram os diferentes modos de jogo e os locais que complementam a experiência em detalhe. É possível reunir um determinado número de carros, por exemplo, Compactos Clássicos Europeus ou da Série Mundial GT, carros da Ford, Chevrolet, ou modelos específicos como o Porsche 911. São carros atribuídos consoante as participações nas corridas.
Há também campeonatos onde é preciso fazer boa figura ou opções que permitem, por exemplo, melhorar um determinado carro. É uma demonstração dos diferentes ramos de Gran Turismo 7. Outro dos exemplos desta cultura automóvel são as diferentes licenças que é preciso desbloquear — com ouro, prata ou bronze. É uma das tradições da série que levam ao desespero muitos dos jogadores que perseguem apenas o ouro.
O GT7 inclui também desafios cronometrados que vão desde parar o carro, um Demio XD Touring, no espaço predeterminado, até uma volta a Spa-Francorchamps controlando um Porsche 917. Quem sair da pista, tocar nas barreiras ou atalhar caminho tem que recomeçar a prova. A jogabilidade de Gran Turismo 7 tem uma boa dose de simulador sem se esquecer da diversão, permitindo aprender com os erros.
Há corridas que começam de dia e terminam ao entardecer e há provas que são afectadas pela meteorologia. A água tem um papel fundamental na excelente jogabilidade, com poças que desestabilizam o carro e faixas correctoras escorregadias como vidro. Já a vertente de rali é a menos conseguida, com os carros a terem, por diversas vezes, comportamentos erráticos.
É a luta pela fracção de segundo em quase todas as competições, a insistência até dominarmos um traçado. Os processos de jogabilidade são efectivamente alterados pelas afinações que podem ser feitas. Há uma secção no Mapa Mundial onde podemos comprar peças que alteram o comportamento dos carros; e outra onde existem opções para fazer a manutenção (mudança de óleo, revisão do motor e até a recuperação da rigidez ou a lavagem do carro) e a personalização.
Com mais de 400 carros e mais de 90 variações de traçados, há muito para descobrir e dominar. E tirar prazer de travar no metro certo antes de uma curva cega na Tokyo Expressway ou de cortar centímetros a mais uma volta na oval de Daytona. Trial Mountain, por exemplo, marcou presença no título original e está de regresso, continuando a ser um prazer percorrer os seus túneis pejados de nostalgia. Infelizmente, a vertente de rally é a menos conseguida, com os carros a terem, por diversas vezes, comportamentos erráticos.
Quem quiser comprar os melhores carros terá que repetir as provas muitas vezes e ganhar créditos. Em Brand Central encontram marcas que vendem as suas criações metálicas por milhões. Um Pagani Zonda R custa, por exemplo, 1,8 milhões de créditos. Um Bugatti Veyron é vendido por 2 milhões. Um Ferrari FXX K chega aos 3,6 milhões. E há uma secção para carros lendários com valores que, no momento em que este texto é escrito, chegam aos 12 milhões de créditos por um Jaguar XJ13. Na apresentação State of Play da PlayStation foi mostrado um Mercedes-Benz S Barker Tourer de 1929 que custava 20 milhões de créditos.
Pelo poder da repetição, podem amealhar estes valores, mas será precisa muita, muita repetição. A Sony, contudo, tem uma solução pouco elegante. Apesar de Gran Turismo 7 ser um jogo que custa 69,99€ na PlayStation 4 e 79,99€ na PlayStation 5, podem comprar créditos no jogo com dinheiro real. A opção mais barata são 100 créditos por 2,49€ e a mais cara são 2 milhões por 19,99€.
Tecnicamente, é uma obra com uma fidelidade gráfica assinalável. Os carros são, claro, o centro do espectáculo, com texturas ricas em detalhes e reflexos, tanto nos exteriores como nos interiores cuidadosamente reproduzidos.
Gran Turismo 7 está também disponível para a PlayStation 4, mas é na PlayStation 5 que brilha mais alto, sendo a única versão que tira partido do comando DualSense. Os gatilhos adaptam-se dinamicamente ao que está a acontecer e o feedback háptico é excelente, permitindo aos jogadores sentirem detalhes inéditos, como a passagem por poças de água. Em termos práticos, o DualSense patrocina uma incrível simbiose entre piloto e máquina.
O multijogador online da obra da Polyphony Digital é tecnicamente sólido, mas ainda está aquém em termos de conteúdo. Podemos participar em eventos Sport, que nos fazem esperar por uma sessão disponível — o que pode chegar aos cinco ou dez minutos — ou então aceder aos lobbies, onde decorrem corridas mais rápidas e directas à acção.
Há ainda alguns modos complementares, como o multijogador em ecrã dividido e o modo Rali Musical, onde alcançar pontos de controlo durante as corridas garante mais tempo no contador para continuar a correr ao som de temas musicais. E os Scapes deixam o jogador fotografar os seus carros com icónicos locais como pano de fundo — incluindo Porto, Aveiro, Óbidos, Lisboa e Faro, entre outros.
Gran Turismo 7 é uma mistura de práticas antigas e modernas, ficando na memória como uma obra única. Não é perfeita, mas oferece aos fãs da série uma entrada que fez a espera valer a pena.
E não vale a pena tentar fazer comparações com a excelente série Forza no PC e na Xbox, pois são muito diferentes na sua essência. Se puder experimentar ambos, melhor. Quem tiver já investido no hardware da Sony e gostar de corridas, tem aqui muito para jogar e para admirar. O exclusivo PlayStation é a paixão automobilística a ser jogada.