Arquitectura
A obra de Francis Kéré, o Pritzker que está “sempre em viagem” entre o Ocidente e África
O Prémio Pritzker 2022 foi atribuído esta terça-feira, 15 de Março, a Diébédo Francis Kéré, arquitecto de 56 anos nascido no Burkina Faso. Pela primeira vez, um arquitecto africano foi distinguido com o mais importante prémio da arquitectura.
A entrada de Francis Kéré na arquitectura acontece em 2001, quando ainda era estudante e desenhou uma escola primária no Gano (imagem 2 da fotogaleria), sua terra natal. Na altura, os professores disseram-lhe que estava "numa posição de poder para mudar um pouco o mundo da arquitectura" naquela vila do Burkina Faso, contou, em entrevista ao PÚBLICO, em 2017. “Se tenho esta oportunidade de ajudar, vou mobilizar todos os meios e recursos locais, e também os recursos materiais disponíveis para criar essa escola”, pensou. E assim se começava a concretizar a ideia que o fez recorrer à arquitectura: ajudar a sua comunidade.
Sobre a possibilidade de ganhar um Pritzker, em 2017 dizia, na mesma entrevista: "O prémio de que fala é de tal modo honroso que não creio que esteja no meu horizonte. Mas acredito que, um dia, se África continuar a fazer este esforço… Veremos. Mas esse não é o leitmotiv do meu trabalho." Acabou por chegar, cinco anos depois, atribuído pela Fundação Hyatt e decidido por um painel de júris presidido pelo Pritzker 2016, o chileno Alejandro Aravena, e que contava com o diplomata brasileiro André Aranha Lago, o professor de História de Arte Barry Bergdoll, o jurista Stephen Breyer, o professor e arquitecto Wang Shu, a curadora Manuela Lucá-Dazio e ainda as arquitectas Deborah Berke, Kazuyo Sejima e Benedetta Tagliabue.
O P3 reuniu algumas das obras do seu portefólio, onde constam escolas, campus, uma clínica e uma ópera. E onde é possível ver a preocupação do arquitecto relativamente à utilização de materiais sustentáveis. Apesar de o seu trabalho se espalhar por diferentes partes do mundo, o centro da actividade do arquitecto foi sempre o Burkina Faso, onde nasceu. "Os projectos que encontro na Alemanha não podem ser transplantados para o Burkina Faso. É preciso adaptá-los. Por isso, estou sempre em viagem, física e mental, entre os dois mundos."