A última resistência contra as forças russas numa pequena ilha ucraniana
Treze soldados foram mortos pelos russos depois de terem mantido a sua posição de defesa numa ilha ucraniana. Vão receber o título de “Heróis da Ucrânia”.
Esta notícia teve uma actualização: Guardas que defendiam ilha ucraniana de Zmiinii podem afinal estar vivos
Enquanto militares russos esmagavam alvos por toda a Ucrânia com uma série de bombas e mísseis, uma pequena equipa de guardas fronteiriços ucranianos, numa ilha rochosa e desolada, recebia uma mensagem ameaçadora: desistam ou serão atacados.
“Sou um navio de guerra russo”, ouviu-se uma voz a anunciar vinda dos invasores, de acordo com uma gravação das comunicações. “Peço-vos que pousem as armas e que se rendam para evitar que se derrame sangue e que morram pessoas desnecessariamente. Caso contrário serão bombardeados”.
Os ucranianos reagiram corajosamente. “Ó navio de guerra russo, vai-te foder”.
Os russos abriram fogo, acabando por matar os treze guardas fronteiriços.
A notícia desta acção de resistência no Mar Negro tornou-se viral na quinta-feira, chamando a atenção para as decisões sombrias que os ucranianos tiveram de enfrentar neste que foi o maior ataque dirigido a uma nação europeia desde a Segunda Guerra Mundial. O Presidente ucraniano Volodimir Zelensky anunciou, algumas horas depois, que os defensores da ilha irão receber o título de “Heróis da Ucrânia”, a maior honra que um líder ucraniano pode conceder.
Uma cópia da gravação foi divulgada no portal de notícias ucraniano Ukrayinska Pravda, tendo um funcionário ucraniano confirmado a sua autenticidade ao The Washington Post. Uma outra gravação, que foi partilhada no TikTok, mostra o que parece ser um guarda fronteiriço de capacete e balaclava no atol - também conhecido como Fidonisi ou Ilha das Serpentes -, a praguejar depois de ter sido atingido pelo fogo. Era um jovem de 23 anos de Odessa, uma cidade portuária no Mar Negro.
De toda a Ucrânia vieram histórias de resistência, no meio da guerra. Em conferência de imprensa, Zelensky afirmou que os guardas fronteiriços tinham tentado proteger a ilha durante grande parte de quinta-feira antes de serem assassinados. Pelo menos 137 ucranianos foram mortos durante um espaço de tempo que nem chegou a um dia de combate, estando as operações a prosseguir, declarou.
Um alto funcionário da defesa dos EUA, falando sob a condição de anonimato para poder discutir as operações com franqueza, disse que o Pentágono tem informação de que os ucranianos estão a ripostar, mas recusou-se a caracterizar o seu desempenho, referindo não querer ajudar a Rússia.
“É pelo seu país que estão a lutar”, afirmou o oficial em referência aos ucranianos.
Embora isolada, esta ilha de 17 hectares marca o limite das águas territoriais da Ucrânia, dando-lhe um papel estratégico no Mar Negro ao ligar um corredor de navegação com as cidades ucranianas de Odessa, Mykolaiv e Kherson.
Esta ilha escassamente povoada já passou por vários donos ao longo do último século, servindo como posto avançado militar para radares e outros equipamentos.
Após a Primeira Guerra Mundial, a ilha foi conquistada pela Roménia. Depois, foi a União Soviética que assumiu o controlo da ilha na sequência da Segunda Guerra Mundial, levando à construção de um farol e de uma base militar, segundo uma história relativa ao caso publicada na Queen's University, no Canadá.
A ilha acabou por ficar para a Ucrânia após a dissolução da União Soviética em 1991, embora a Roménia tenha continuado a disputar aquele território. Um tribunal internacional acabou por decidir que a Ucrânia ficaria com o controlo da ilha e a Roménia com a posse de grande parte das águas circundantes.
Exclusivo PÚBLICO/The Washington Post