Actualmente, o país aguarda ansiosamente o próximo dia 30 de Janeiro, no qual se elegerá o próximo Governo em Portugal. Como tal, habituámo-nos já há algumas semanas aos debates acesos, insurgidos por uma democracia mais representativa e próxima de todos os cidadãos, nos quais se discutem as variadas áreas de actuação do Governo português.
Não obstante, no que toca à área da saúde, questionamo-nos onde estão discutidas as propostas apresentadas relativamente à saúde mental. Certamente, estão bem referenciadas em breves linhas e alguns tópicos na maioria dos programas eleitorais dos nossos partidos que concorrem às eleições, porém, naquele que é o verdadeiro espaço elucidativo das propostas de cada um dos partidos, nos debates políticos, transmitidos nas variadas plataformas, a problemática da saúde mental nem sequer é abordada, permanece como um não-assunto, camuflada por outras temáticas que mais atraem a atenção e o voto da maioria dos portugueses. Será que o povo português não tem interesse na sua própria saúde mental? Ou será que compensa mais aos nossos políticos falar do aumento das pensões, das condições de trabalho, da educação, da corrupção (e bem, atenção) em vez de explicar as propostas para assegurar a saúde mental em termos adequados a todos os portugueses?
O Instituto de Investigação e Inovação em Saúde da Universidade do Porto revela que 50% das pessoas portuguesas inquiridas num estudo publicado no Journal of Affective Disorders Reports demonstram sintomas mais graves de depressão, principalmente com maior impacto em faixas etárias mais jovens. Seguindo esta linha de raciocínio, no ano transacto, a Ordem dos Psicólogos informou-nos que, em Portugal, cerca de três pessoas morrem de suicídio por dia, sem contabilizar as várias tentativas diárias levadas a cabo nesse sentido. Inclusive, o suicídio é a segunda causa de morte das pessoas cuja faixa etária é entre 15 e 34 anos.
Indubitavelmente, a saúde mental dos portugueses agravou-se de um modo generalizado como reflexo de uma pandemia imprevisível e dos seus efeitos trágicos, mas também reflecte algum desinvestimento por parte dos governos anteriores nesta temática tão peculiar. Sabemos que a depressão é uma doença presente na vida de muitos portugueses, agravada por um contexto pandémico horrível, que dura há praticamente dois anos, cujos efeitos futuros são ainda incalculáveis. No entanto, sentimos ainda um ligeiro desconforto ao falar da saúde mental, como se não existisse de facto, como se não fosse um problema grave na vida dos portugueses. Infelizmente, é tratada como o parente pobre pelos nossos políticos, deixando claro que pouco releva a saúde mental dos portugueses quando comparada à subida das pensões, à subida do salário mínimo, a melhores condições de trabalho, à subida das penas pelos crimes de corrupção, entre outras.
Efectivamente, este género de questões são aquelas que interessam e que garantem o voto dos portugueses. No fundo, somos robôs e números que significam uma determinada quantidade de votos. Lamentamos imenso, mas de nada valerão melhores salários, melhores condições de trabalho, melhor acesso à educação, se os portugueses não tiverem o devido e necessário acompanhamento à sua saúde mental. Concluo que, qualquer que seja o Governo eleito no próximo dia 30, seja de direita ou de esquerda, não pode negligenciar a saúde mental dos portugueses.