Escolher, simplificar, valorizar
A industrialização de nova geração passou a ser um pilar fundamental para assegurar a autonomia estratégica da União. Atingir a fronteira tecnológica e ser competitiva à escala global implica que a União seja capaz de escolher, simplificar e valorizar.
Na União Europeia, a necessidade de aplicar uma nova estratégia industrial capaz de aproveitar o impulso da descarbonização e da digitalização para reposicionar as suas empresas nos mercados globais, reassumir o controlo das cadeias de valor, minimizar os impactos sociais da deslocalização e resolver as desvantagens comparativas no custo dos fatores é anterior ao surgimento da pandemia. Os impactos da crise pandémica aumentaram exponencialmente o sentido de urgência da ação necessária.
A industrialização de nova geração passou a ser um pilar fundamental para assegurar a autonomia estratégica da União. Uma autonomia que não tem que ser necessariamente, e não deve ser, em minha opinião, uma porta aberta para tentações protecionistas, mas antes uma janela de oportunidade para dinâmicas multilaterais de interdependência e sinergia.
Atingir a fronteira tecnológica e ser competitiva à escala global implica que a União seja capaz de escolher, simplificar e valorizar.
Escolher, desde logo, enfrentar com determinação as maiores dependências identificadas e apostar na garantia de acesso nas matérias-primas, nas baterias, nos ingredientes farmacêuticos, nos semicondutores, no hidrogénio e nos dados. Portugal alinhou as suas escolhas e tem um papel relevante em muitas delas. Escolher também os ecossistemas industriais em que a União quer competir de igual para igual à escala global, aproveitando a combinação das transições gémeas, ou seja, da transição verde e da transição digital.
Escolher é fundamental, mas a burocracia e a inflexibilidade na concretização, mesmo existindo recursos e competências adequadas, podem deitar tudo a perder. A burocracia é cúmplice da corrupção e a inflexibilidade cristaliza a incompetência.
A simplificação com transparência é uma condição crítica para prevenir um fracasso de consequências brutais num momento em que a dinâmica e o timing são fatores críticos de sucesso. Ainda não estou seguro se na União e em Portugal já temos instituições que acelerem as soluções em vez de as complicarem.
Finalmente, é fundamental valorizar os recursos endógenos, a tradição multilateral e multicultural, a história, os princípios e os valores, embebendo-os em soluções, produtos e serviços em que as pessoas são o centro e não variáveis de contexto, criando uma mais-valia de perceção, de função e de qualidade para o “Made in Europe”.
Em Portugal, é determinante valorizar a geração mais qualificada de sempre, desenhando projetos incorporando remunerações convergentes com as práticas nos outros países da União, para garantir a fixação e a atração de recursos humanos motivados e preparados. Um projeto que não é viável remunerando de forma competitiva os recursos humanos que mobiliza exige reformulação ou abandono. Escolher competir pela mão-de-obra barata foi um erro de visão. Repetir o erro seria inaceitável!
Eurodeputado PS. Membro efetivo da Comissão de Indústria, Investigação e Energia