A fábrica de corpos dóceis
“2020 foi um poço que se abriu no chão e nos engoliu, mas em 2021 percebemos que era um buraco negro. Não páramos de resvalar, perdidos no tempo, mas aprisionados no espaço”, afirma Isabela Figueiredo que, a convite do P2, recorda o ano que passou. Neste testemunho íntimo, que cruza entradas rotineiras de agenda com o noticiário torrencial sobre a pandemia, a escritora diz que o capitalismo depende de “corpos dóceis que funcionam e não questionam”.
Se o ano de 2021 fosse um romance e precisasse de lhe dar título, teria muitas dúvidas, por excesso de matéria. Como beber depois das 8h? Chocolates em take away? Mudar de concelho entre os pingos da chuva? Ou raiva. Simplesmente raiva. Senti-a muito. A raiva é um motor que nos mantém acordados. A paz permite visão clara, mas a raiva é que puxa a carroça. Nos dias piores, anima.
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