Clara Não vai revestir as paredes do Art Room com emoções à flor da pele
A ilustradora, autora e activista gaiense volta a Lisboa para apresentar a sua “produção mais complicada até à data”. Positividade tóxica, feminismo e sexualidade são alguns dos temas do open studio, sobre os quais Clara Não gostava que as pessoas reflectissem e debatessem.
Dois anos depois da exposição Ai, Miga!, Clara Não volta ao Art Room, em Lisboa, com um open studio “mais focado na escrita”. Quem for à galeria nos dias 25, 26 e 27 de Novembro vai poder ficar a conhecer alguns sentimentos e reflexões da ilustradora, que vai marcar presença nos três dias da exposição de entrada livre, Porque o Meu Coração É Piroso, mas.
“O conceito plástico da exposição já começou a ser pensado há muito tempo” e as criações que vão estar em exibição “foram feitas durante a pandemia”, conta Clara Não ao P3. A artista focou-se em temas como positividade tóxica, aceitação da dor, autoconhecimento e, como não poderia deixar de ser, feminismo e sexualidade, abordados sempre “com humor e dramatismo”.
A inauguração da exposição vai acontecer a 25 de Novembro, entre as 18h e as 21h, e vai ser necessário apresentar certificado de vacinação e cartão de cidadão à entrada ou realizar um autoteste no exterior do Art Room. Vai haver alguns testes à venda na galeria, mas as pessoas devem levar o seu preferencialmente. Nos dois dias seguintes, o horário estende-se das 14h às 21h e não é preciso mostrar certificado nem fazer autoteste.
Porque o Meu Coração É Piroso, mas vai contar ainda com uma performance ao vivo de escrita da ilustradora, nos três dias, das 19h às 19h30. Clara espera que as pessoas saiam da exposição a sentirem-se “menos sozinhas e mais empoderadas” e que, tal como ela, sejam capazes de se “rir da desgraça”, mas também de “chorar quando bem lhes apetecer”.
O Art Room é “um espaço muito especial” para Clara, pois foi onde fez a primeira grande exposição a nível nacional, em 2018: Vou ali e já Venho. Passada uma semana, foi contactada pela Porto Editora para escrever um livro, lançado em Junho de 2019, ao qual deu o título Miga, Esquece lá isso. A estrutura “crua” e com “tudo à mostra” da galeria de arte, num sótão do século XIX, reflecte a ideia de “honestidade” da exposição, diz Clara.
Clara Silva começou a desenhar quando tinha quatro anos e sempre fez muitos trabalhos manuais com a família. Licenciou-se em Design de Comunicação na Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto. Foi lá que frequentou a cadeira de Antropologia Urbana, para a qual fez um trabalho sobre a quarta vaga do feminismo, explorando a sua existência dentro cultura pop. A partir daí começou a interessar-se ainda mais pelo movimento que luta pela igualdade de género e a criar arte que chamasse a atenção para o mesmo. No início de 2018, escreveu o Manifesto de Uma Mulher Artista Independente.
Quando Clara acabou a licenciatura, em 2015, começou à procura de um nome para se apresentar ao mundo. Achou que nenhum dos seus apelidos era “fixe para uma ilustradora”, pelo que fez uma lista com vários nomes possíveis, mas ia cortando e dizendo “não” a todos. Depois pensou, “porque não?”. Com o tempo, o sobrenome foi fazendo cada vez mais sentido para a artista e activista, que apela ao direito de dizer “não” e contesta injustiças no seu dia-a-dia.
Texto editado por Ana Maria Henriques