Dia 1, enquanto líderes mundiais se reuniam dentro da Cimeira do Clima, estivemos em protesto. Ouvimos activistas que, não lhes sendo concedida uma voz lá dentro, se fizeram ouvir lá de fora. Começando num comício, passando por uma conferência de imprensa com activistas das zonas mais afectadas pela crise climática (MAPA) e acabando com a chegada do navio Rainbow Warrior, da Greenpeace, sentiu-se união e luta no ar.
Activistas do Sul Global estão a lutar há décadas por um lugar na mesa; na mesa em que, todos os anos, líderes mundiais decidem o destino de milhares de milhões de pessoas, sem a presença das mesmas. Nesta COP26, — após inúmeras dificuldades de acesso àquela que se está a revelar a COP mais exclusiva de sempre, apesar de ser apresentada como o oposto, — activistas MAPA estão presentes para exigir o fim do imperialismo climático.
Entre eles, Jon Bonifacio, das Filipinas. No seu país, com 1,2º C de aquecimento, experienciam-se tufões que destroem vidas e meios de subsistência, e inundações que atingem terceiros andares de edifícios e arruínam terras agrícolas. Nas suas palavras, a crise climática está a acontecer agora, e o Sul Global está a ser sacrificado enquanto os países ricos e industrializados escapam com metas abstractas de redução de emissões. Enquanto a prioridade continuar a ser o lucro e a extracção, servindo o interesse dos poucos e não dos muitos, a destruição de terras e vidas continuará.
Nas Filipinas, projectos de exploração mineira massivos devastam povos indígenas e ecossistemas; e quer estejam eles à procura de carvão para queimar ou de cobre e lítio para baterias e renováveis, mais uma vez, são as pessoas do Sul Global que pagam.
De um lado ao outro de África, têm havido inundações, incêndios, ondas de calor, secas severas, entre outros. Esta é a realidade de Patience Nabakatu, activista de Uganda. No seu discurso, contou-nos como África está a sofrer, assim como as suas pessoas. África é responsável por menos de 5% das emissões globais, mas é o continente mais vulnerável no que toca às consequências dos desastres climáticos.
Dentro da Cimeira do Clima, os líderes mundiais fazem promessas e declarações sofisticadas mas vazias. Fora, os activistas exigem o seu direito básico à vida e a um futuro digno.
Nicki Becker, da Argentina, também cá está, pois as decisões tomadas (ou não) nesta COP vão determinar a qualidade de vida das gerações presentes e futuras. “Quando se fala na crise climática, muitas vezes fala-se em números, projecções, graus. Mas para muitas pessoas, falar sobre a crise climática é falar sobre direitos humanos básicos, como o direito à água, à habitação, à saúde, à vida”, explicou.
Na América Latina, já se vivem os efeitos da crise climática, desde os incêndios às secas históricas. Nicki contou-nos como, na Argentina, mais de um de milhão de hectares de florestas e pântanos arderam em 2020, levando consigo mais de 200 vidas.
Já ao anoitecer, quatro activistas por justiça climática chegaram a Glasgow, após navegarem até cá no navio Rainbow Warrior, da Greenpeace. São eles Maria Reyes (México), Edwin Moses Namakanga (Uganda), Farzana Faruk Jhumu (Bangladesh) e Jakapita Faith Kandanga (Namíbia). Após várias tentativas de os pararem no caminho, estão cá para avisar os presidentes, primeiros-ministros, decisores políticos e CEOs que as suas vozes não voltarão a ser ignoradas.
Para eles e muitas outras pessoas, o conhecimento acerca da crise climática não vem dos livros; vem das suas casas e das suas vidas diárias. A crise climática não é uma preocupação futura — está a acontecer agora. Milhares de pessoas estão a morrer devido a esta crise e os líderes mundiais dentro da Cimeira têm sangue nas suas mãos.
Costumamos ouvir que todos somos um pouco responsáveis pela crise climática. Mas nós estamos cá para dizer que isso é mentira: nem todos somos responsáveis. Nem todos somos responsáveis quando 100 empresas emitem 70% dos gases de efeito estufa; nem todos somos responsáveis quando a própria Cimeira do Clima é financiada por empresas fósseis; nem todos somos responsáveis quando quem menos contribuiu para o agravar da crise climática é quem mais está a pagar pelas suas consequências.
Independentemente do que acontecer nesta COP, sabemos que a solução para a crise climática não está na Cimeira. Por isso, lado a lado com os sectores mais afectados da sociedade, não pararemos até derrubarmos este sistema e construirmos um mundo que coloque as pessoas e a vida no centro.