COP26: a força está no movimento

Não é possível resolver esta crise dentro do sistema que a criou, e em espaços construídos para falhar. As acções concretas e mudanças profundas das quais necessitamos não virão da via institucional, mas sim das pessoas e da sua força colectiva.

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EPA/VICKIE FLORES

Em Agosto, o novo relatório IPCC confirmou-nos o que já sabíamos: que estamos em emergência climática, em contra-relógio. A nossa casa está a arder, e as chamas com elas levam os nossos presentes e futuros. A luta por justiça climática, não sendo de agora, nunca foi tão urgente. 

Ainda assim, decisores políticos de todo o mundo falham propositadamente na resolução desta crise há décadas. Alternativamente, criam uma ilusão de acção climática -, ao mesmo tempo que passos decisivos são adiados, florestas ardem, calotes polares derretem e vidas são destruídas.

A COP26 está a começar. Esta, que será a 26.ª Conferência das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas, tem os olhos do mundo postos nela. Espera-se a presença de cerca de 25 000 pessoas em Glasgow - entre elas, decisores políticos, jornalistas e, claro, activistas. 

197 países deverão apresentar os seus planos nacionais de cortes de emissões até 2030. Haverá uma batalha relativa a compensações para os países mais afectados pelas alterações climáticas - que são, em simultâneo, aqueles que para esta crise menos contribuíram. Em 2009, países ricos prometeram 100 mil milhões por ano aos países pobres, até 2020. No entanto, essa meta está longe de ser cumprida, podendo cair para 2023. E isto é apenas parte da peça de teatro a que temos vindo a assistir.

Diz-se que esta Cimeira é a última oportunidade para travar a crise climática. Mas sabemos que não será o business-as-usual e as promessas vazias e pouco ambiciosas a que já estamos habituados que farão a diferença. 

Décadas de políticas ambientais foram insuficientes. Todos os acordos internacionais feitos pelos países em Cimeiras do Clima têm sido insuficientes. Não é possível resolver esta crise dentro do sistema que a criou, e em espaços construídos para falhar. As acções concretas e mudanças profundas das quais necessitamos não virão da via institucional, mas sim das pessoas e da sua força colectiva. 

No passado dia 22 de Outubro, eu e activistas do Fridays For Future, de todo o mundo, em especial da linha da frente da crise climática (MAPA), participámos na Greve Climática Global em Estocolmo, na Suécia. Foi lá que a activista Sofía Gutiérrez, da Colômbia, ergueu a sua voz acerca do contexto de conflito armado em que cresceu. A Colômbia é o país mais perigoso do mundo para defensores climáticos, mas não há tempo para ter medo quando a luta tem de ser constante. Para muitos, lutar por justiça climática não é uma escolha, mas uma necessidade. Nas suas palavras: “Se tens o privilégio de protestar, por que não o fazes? Se tens o privilégio de aprender sobre a crise climática que nos afecta, por que não o fazes? Tens essa responsabilidade, então pelo que estás à espera?” 

A crise climática é um resquício de séculos de colonialismo e exploração, e indústrias como a petrolífera garantem a sua continuação. Bancos como o Standard Chartered, do Reino Unido, investem milhares de milhões em combustíveis fósseis, particularmente em MAPA. Foi por isso que, no dia 29 de Outubro, em Londres, fizemos parte de um dia de acção sobre o sector financeiro. À beira da conferência em Glasgow, exigimos que bancos como este parem de financiar o caos climático. 

Agora, o nosso destino é Glasgow - dentro e fora da COP26 - onde nos iremos organizar, mobilizar e lutar para transformar a impotência institucional em poder social que dê asas a uma mudança duradoura. Muito acontecerá nas próximas duas semanas e, unidos por todo o mundo, não pararemos até este sistema ser derrubado.

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