Pare, escute e olhe: esta quinta e sexta, há música ao vivo no Metro de Lisboa e do Porto
A iniciativa, desenvolvida pelo Programa Nacional para a Saúde Mental da Direcção-Geral da Saúde, organiza pela primeira vez 18 concertos nas seis principais estações das linhas do metropolitano das duas cidades.
As estações de metro são dos locais mais movimentados de cidades como Lisboa e Porto, percorridas todos os dias por milhares de pessoas, mas sendo poucas as que lá permanecem por mais de dez minutos. É exactamente entre a correria do dia-a-dia e a azáfama dos centros metropolitanos que a iniciativa Há Música no Fundo do Túnel, promovida pelo Programa Nacional para a Saúde Mental da Direcção-Geral da Saúde, convida a abrandar o passo e parar, não só para escutar os 18 concertos espalhados pelas estações, mas também para darmos ouvidos aos sinais de alerta do nosso corpo e mente.
Contando com a participação de mais de uma dezena de artistas dos mais variados estilos musicais, o projecto inicia-se nas estações de S. Bento, Bulhão e Casa da Música, no Porto, já esta quinta-feira, 28 de Outubro, com as actuações do Coro do Hospital de Magalhães Lemos, Edu Mundo, Marrokan Zé, Filipe Furtado, Nuno Melo, Viajante DHC, Rui Maio e Débora Papa.
No dia seguinte, é a vez das estações lisboetas do Cais do Sodré, Marquês de Pombal e Alameda receberem David Pessoa, Riot, Death Disco Disaster, Fio à Meada, Sitah Faya x Spock, Cria e Afixa, Nando Nobre, Avan Gra, Kra Z Mic. Os horários dos concertos foram ainda pensados estrategicamente para coincidirem com os momentos de maior afluência, estando assim programados para as horas de ponta da manhã, das 8h30 às 10h30; da tarde, entre as 12h30 e as 14h30; e, por último, da noite, a começar pelas 17h30 e a terminar pelas 20h30.
“A ideia é desenvolver esta acção nos sítios públicos em que passamos todos os dias, seja a ir para o trabalho ou a voltar dele, e então lembrámo-nos dos metros”, explica a médica de saúde pública Diana Martins Correia, do Programa Nacional para a Saúde Mental ao PÚBLICO. “A música ao vivo acaba por ser uma forma de suscitar a curiosidade e fazer com que as pessoas queiram saber o que ali se passa, conjugando os benefícios já amplamente estudados do estímulo musical a nível da redução do stress, da ansiedade e da melhoria do humor”.
De acordo com a especialista, o grande objectivo da iniciativa é sensibilizar toda a população para a importância do bem-estar psicológico — aquele que é ainda o “parente pobre da saúde” e que ficou ainda mais fragilizado com a situação pandémica. “Esta também é uma oportunidade para atrair a atenção dos decisores políticos a investir mais recursos financeiros e humanos para dar resposta a problemas que sempre existiram e que agora se agravaram”, acrescenta.
Os artistas e todo o sector cultural foram, por sua vez, também muito prejudicados pela pandemia. Que o diga Márcia, a cantora e compositora portuguesa de 39 anos, que aceitou ser embaixadora deste projecto e que ao longo da sua carreira sempre deu a conhecer a sua preocupação com a causa mental.
Para a artista, o bem-estar psicológico está intrinsecamente ligado a todas as produções de arte, sejam elas musicais, literárias ou plásticas, e os confinamentos só vieram pôr a descoberto o quanto precisamos da cultura para nos aproximarmos uns dos outros. “Enquanto colectivo, percebemos que estava a faltar alguma coisa nas nossas vidas, daí terem surgido tantas lives. As pessoas identificavam-se na poesia, na música, nas letras”, conta a cantora ao PÚBLICO, que considera que não há nada mais terapêutico do que assistir a um concerto. “Quando a minha música toca num espectador e este chora, eu sei que é um choro de catarse, de cura. Esta pessoa percebeu que não está sozinha, que há alguém que a entende e é essencial sentirmos isso, enquanto seres humanos”, defende a artista.
Além dos concertos dinamizados, a iniciativa espalha, pelas várias carruagens dos metros, mensagens de apoio e de informação para todos aqueles que precisem de saber onde procurar ajuda psicológica. “Porque isto não é só para falar sobre música, é para alertar as pessoas a estarem atentas a si próprias”, conclui Diana Martins.
Texto editado por Carla B. Ribeiro