Pare, escute e olhe: esta quinta e sexta, há música ao vivo no Metro de Lisboa e do Porto

A iniciativa, desenvolvida pelo Programa Nacional para a Saúde Mental da Direcção-Geral da Saúde, organiza pela primeira vez 18 concertos nas seis principais estações das linhas do metropolitano das duas cidades.

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"Consciencializar as pessoas para a promoção do bem-estar físico, psicológico e social" é o objectivo deste projecto Nicolau Botequilha/Arquivo

As estações de metro são dos locais mais movimentados de cidades como Lisboa e Porto, percorridas todos os dias por milhares de pessoas, mas sendo poucas as que lá permanecem por mais de dez minutos. É exactamente entre a correria do dia-a-dia e a azáfama dos centros metropolitanos que a iniciativa Há Música no Fundo do Túnel, promovida pelo Programa Nacional para a Saúde Mental da Direcção-Geral da Saúde, convida a abrandar o passo e parar, não só para escutar os 18 concertos espalhados pelas estações, mas também para darmos ouvidos aos sinais de alerta do nosso corpo e mente

Contando com a participação de mais de uma dezena de artistas dos mais variados estilos musicais, o projecto inicia-se nas estações de S. Bento, Bulhão e Casa da Música, no Porto, já esta quinta-feira, 28 de Outubro, com as actuações do Coro do Hospital de Magalhães Lemos, Edu Mundo, Marrokan Zé, Filipe Furtado, Nuno Melo, Viajante DHC, Rui Maio e Débora Papa. 

No dia seguinte, é a vez das estações lisboetas do Cais do Sodré, Marquês de Pombal e Alameda receberem David Pessoa, Riot, Death Disco Disaster, Fio à Meada, Sitah Faya x Spock, Cria e Afixa, Nando Nobre, Avan Gra, Kra Z Mic. Os horários dos concertos foram ainda pensados estrategicamente para coincidirem com os momentos de maior afluência, estando assim programados para as horas de ponta da manhã, das 8h30 às 10h30; da tarde, entre as 12h30 e as 14h30; e, por último, da noite, a começar pelas 17h30 e a terminar pelas 20h30. 

“A ideia é desenvolver esta acção nos sítios públicos em que passamos todos os dias, seja a ir para o trabalho ou a voltar dele, e então lembrámo-nos dos metros”, explica a médica de saúde pública Diana Martins Correia, do Programa Nacional para a Saúde Mental ao PÚBLICO. A música ao vivo acaba por ser uma forma de suscitar a curiosidade e fazer com que as pessoas queiram saber o que ali se passa, conjugando os benefícios já amplamente estudados do estímulo musical a nível da redução do stress, da ansiedade e da melhoria do humor”.

De acordo com a especialista, o grande objectivo da iniciativa é sensibilizar toda a população para a importância do bem-estar psicológico — aquele que é ainda o “parente pobre da saúde” e que ficou ainda mais fragilizado com a situação pandémica. “Esta também é uma oportunidade para atrair a atenção dos decisores políticos a investir mais recursos financeiros e humanos para dar resposta a problemas que sempre existiram e que agora se agravaram”, acrescenta. 

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A cantora e compositora Márcia é a embaixadora desta iniciativa DR

Os artistas e todo o sector cultural foram, por sua vez, também muito prejudicados pela pandemia. Que o diga Márcia, a cantora e compositora portuguesa de 39 anos, que aceitou ser embaixadora deste projecto e que ao longo da sua carreira sempre deu a conhecer a sua preocupação com a causa mental.

Para a artista, o bem-estar psicológico está intrinsecamente ligado a todas as produções de arte, sejam elas musicais, literárias ou plásticas, e os confinamentos só vieram pôr a descoberto o quanto precisamos da cultura para nos aproximarmos uns dos outros. Enquanto colectivo, percebemos que estava a faltar alguma coisa nas nossas vidas, daí terem surgido tantas lives. As pessoas identificavam-se na poesia, na música, nas letras”, conta a cantora ao PÚBLICO, que considera que não há nada mais terapêutico do que assistir a um concerto. “Quando a minha música toca num espectador e este chora, eu sei que é um choro de catarse, de cura. Esta pessoa percebeu que não está sozinha, que há alguém que a entende e é essencial sentirmos isso, enquanto seres humanos”, defende a artista. 

Além dos concertos dinamizados, a iniciativa espalha, pelas várias carruagens dos metros, mensagens de apoio e de informação para todos aqueles que precisem de saber onde procurar ajuda psicológica. “Porque isto não é só para falar sobre música, é para alertar as pessoas a estarem atentas a si próprias”, conclui Diana Martins. 


Texto editado por Carla B. Ribeiro

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