Por mera casualidade, o anúncio do arranque da nova fase do Novo Bauhaus Europeu, por parte da Comissão Europeia, coincidiu em cheio com uma campanha eleitoral portuguesa em que predominaram, entre outros, os temas ambientais. Porém, ouvindo alguns dos debates, ficava a impressão de que alguns candidatos, mais do que colocar ecopontos, pretendiam marcar “eco pontos”: isto é, que intuíam obter benefícios eleitorais com a aproximação – sincera ou dissimulada – às causas da agenda ecologista.
Sejam quais forem as motivações, ainda assim, surgem em sintonia com as tendências europeias, a começar pelo Pacto Ecológico Europeu e a acabar na Lei Europeia do Clima, passando pela supracitada iniciativa da Comissão Europeia. Como resumi-la? Anunciado por Ursula von der Leyen em Setembro de 2020, no discurso do Estado da União, o dito “movimento” Novo Bauhaus Europeu inspira-se no legado da escola homónima fundada, em 1919, pelo arquitecto alemão Walter Gropius. Tendo como mote o lema “Beautiful, Sustainable, Together”, visa explorar novas formas criativas de repensar as cidades, adaptando-as aos impactos das alterações climáticas; procura melhorar a eficiência energética dos edifícios e da mobilidade, conciliando a arte e a ciência, no intuito de atingir a neutralidade climática até 2050; valoriza a participação cívica e o trabalho em rede, numa lógica da base para o topo, que tenciona resgatar alguns elementos axiais do movimento originário, como a interdisciplinaridade ou a inovação nos materiais. Não é garantido – longe disso – que isto baste para desencadear a “onda de renovação” a que aludiu David Sassoli, o presidente do Parlamento Europeu, mas as intenções, uma vez mais, são tudo menos nocivas.
E, de resto, a tendência nem é exclusivamente europeia. Numa conferência recente alusiva ao tema, o antigo mayor de Nova Iorque, Mike Bloomberg, revelou que só quando assumiu funções executivas se apercebeu de que, na sua cidade, eram os edifícios, mais do que os transportes, que contribuíam para agravar a poluição. E não será alheio a isso o facto de o actual mayor, Bill de Blasio (de orientação democrata), ter apresentado, já em Abril de 2019, o que denominou “New York City Green New Deal". De acordo com o respectivo comunicado oficial, a cidade declarava o empenho na observância do Acordo de Paris, alegando que “não há tempo a perder”. E algumas das medidas anunciadas, entre outras, reflectiam essa urgência: assegurar uma redução acrescida de cerca de 30% nas emissões de gases com efeito de estufa, até 2030; atingir a neutralidade carbónica até 2050, privilegiando a electricidade “limpa”, impor que os edifícios mais volumosos cortassem as suas emissões em 40%, até 2030, e em 80%, até 2050, etc.
De facto, segundo estimativas conhecidas, as cidades são responsáveis por 75% das emissões de gases com efeito de estufa, sendo os edifícios responsáveis por 36% a 40% das emissões de dióxido de carbono. E não falta quem vaticine que, na próxima década, a quase totalidade das cidades mais densamente povoadas se situará no Hemisfério Sul, o que poderá acentuar clivagens no processo de transição ecológica. Mesmo na Europa, já se verificam disparidades significativas: conforme reconheceu a própria Comissária para a Coesão e Reformas, algumas regiões rondam os 32% de PIB per capita, enquanto outras atingem valores na ordem dos 260%. Ainda assim, além do papel desempenhado pelo Fundo de Coesão e pelo Fundo de Desenvolvimento (e pelos próprios Planos de Recuperação e Resiliência), importa sublinhar que 35% do orçamento do novo Programa Horizonte Europa será afectado à transição ecológica, sem esquecer a nova componente do “Erasmus+ Verde”, que incentiva o recurso a modos de transporte sustentáveis.
Por falta de habilitações técnicas específicas, não me arrisco a especular se - como sugeria, há uns meses, Stefan Håkansson, na Comissão CULT do Parlamento Europeu - a solução poderá passar pelas tecnologias que permitem reaproveitar a energia produzida, sob a forma de calor residual, em diversas actividades quotidianas; ou se – conforme aventa o arquitecto Shigeru Ban – se deverá favorecer o recurso a materiais de construção renováveis, como a madeira e o bambu. Do que não parecem restar dúvidas é que o tempo urge – e, parafraseando um senhor célebre, no entanto, a Terra move-se.