Quando as imagens perderam um rumo

O 11 de Setembro teve uma influência directa nas imagens do cinema norte-americano ou apenas acelerou, afinal, algo que se adivinha nas mudanças da indústria? Entre Jonathan Demme, Spike Lee, Clint Eastwood, ou ainda Manoel de Oliveira, olhamos para um tempo passado em busca de imagens esquecidas.

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REUTERS/Mark Kauzlarich

O ano é 1986 e, nas salas de cinema, onde os Talking Heads tinham pedido aos espectadores para Stop Making Sense (1984) e dançarem com eles à frente do ecrã, o nova-iorquino Jonathan Demme, realizador desse filme-concerto, oferecia-nos uma viagem difícil de descrever. Partindo de imagens de Nova Iorque e das omnipresentes Torres Gémeas, um yuppie (Jeff Daniels) decide entrar no carro de uma rebelde (Melanie Griffith) para viver tudo o que não tinha vivido, até então, e seguir um caminho onde, deixando uma rotina “rica” e “segura” para trás e sem nunca conhecer o novo destino, mergulhar numa louca paixão e numa perigosa experiência com o abismo (Ray Liotta). Seria esta louca história de amor, afinal, a de uma cidade que, antes de um novo século, vivia uma atracção estranhamente mútua entre personagens do mundo artístico e financeiro? Seria esse ainda, também, o tempo em que um filme conseguia levar grupos de espectadores às salas de cinema, numa cidade, para fazerem uma viagem exultante onde deviam abdicar das suas zonas de conforto? Em Something Wild (Selvagem e Perigosa, 1986), o antigo World Trade Center era talvez o único ponto de orientação de pessoas que, nunca olhando para ele, viviam com o seu espectro e peso na paisagem: um misto de poder e opressão, de fascínio e superação, que inspirava sentimentos contraditórios de amor-ódio e ofereciam o reflexo de algo intrinsecamente nova-iorquino.

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