Foram anos de luta por uma identidade, que agora se vê diluída no ciberespaço. Comentários insultuosos e de troça inundam as caixas de comentários, apelos para que a informação seja disponibilizada de forma gratuita. Os jornalistas merecem mais respeito.
O aparecimento da Internet trocou as voltas ao jornalismo e aos jornalistas, que se viram obrigados a reinventar-se (mais uma vez). Com ela, surge também uma nova forma de participação do público. É nas redes sociais que os órgãos de comunicação social geram mais interacções. Há já até quem prefira falar em “produção de conteúdos”, um conceito subjugado, é claro, a uma consequente perda de identidade. Actualmente, o público aparenta estar cada vez mais dentro do que é a profissão de jornalista, mas estará o suficiente?
O dia de trabalho de um jornalista começa cedo com a leitura da actualidade, depois começam os telefonemas em busca de informação, as saídas da redacção, as teclas, tudo isto a um ritmo atroz. A hora de saída é uma incógnita. Atrevo-me a dizer que os jornalistas estão sempre a trabalhar, o tempo não pára e as coisas não deixam de acontecer. Num estágio que fiz há coisa de um mês, disseram-me: “A refeição mais importante de um jornalista é o pequeno-almoço”. E veio-se mesmo a confirmar. À hora de almoço lá estavam eles: acontecimentos de última hora ou o jornal tinha de “fechar” para ir para a gráfica.
Até ao resultado final, muitas vezes são muitas as barreiras atravessadas por estes profissionais, nomeadamente as restrições à informação. Porque se queremos falar dos deveres dos jornalistas também temos de falar dos seus direitos que, inclusive, também se incluem no Código Deontológico da profissão, actualizado em 2017. No ponto três deste código, diz-se: “O jornalista deve lutar contra as restrições no acesso às fontes de informação e as tentativas de limitar a liberdade de expressão e o direito de informar. É obrigação do jornalista divulgar as ofensas a estes direitos”. Dito isto, não é preciso recuar muito no tempo para nos apercebermos de casos, em Portugal, para que não se ache que se trata de uma realidade alheia, de agressão, seja ela física ou verbal, e perseguições a jornalistas.
A informação que nos chega passa por um longo processo, que implica várias formas de encarar o jornalismo, daí que se torne descabido descredibilizar o trabalho de todos os jornalistas, até porque não vale de nada a um jornalista querer cumprir com o código que o rege se os interesses empresariais estiverem à margem dos seus desejos. Posso ainda garantir-vos, por experiência, que há quem abdique de ser o primeiro a noticiar em prol do bom jornalismo.
Este longo processo de que falei anteriormente inclui vários profissionais, dignos de um salário decente. Também eles sentem as crises. Foram anos de luta por uma identidade, que agora se vê diluída no ciberespaço. Comentários insultuosos e de troça inundam as caixas de comentários, apelos para que a informação seja disponibilizada de forma gratuita. Os jornalistas merecem mais respeito.
Como afirma o jornalista Fernando Correia: “Os problemas da comunicação social são transversais à sociedade, e são suficientemente graves e importantes para serem deixados apenas aos profissionais do sector”. Por isso, antes de nos queixarmos de um artigo que está “fechado”, lembremo-nos que está nas nossas mãos mudar isso e que o jornalismo ainda é o “pilar” da nossa democracia.
Já imaginaram um mundo sem informação?