Desde há mais de 300 anos que o Forte de São João Baptista cumpre a função de vigiar a costa de Esposende (com um ou outro intervalo pelo meio). A monarquia mandou erguê-lo porque entendeu ser necessário reforçar essa linha de defesa. Foi desactivado depois, mas voltou a valer ao reino aquando das invasões francesas, lá no início do século XIX. Décadas depois, afirmou-se com “a colocação do farol e de todos os edifícios que estão associados ao apoio que este espaço requer em termos de vigilância”. Agora, tem um novo encargo: o de acolher iniciativas culturais.

A estreia dá-se esta sexta-feira, a partir das 17h, com a inauguração da exposição Patrimónios Emersos e Submersos — Do Local ao Global, que assinala as comemorações dos 500 anos da primeira viagem de circum-navegação do planeta, iniciada por Fernão Magalhães e terminada por Sebastián Elcano. Em Setembro do ano passado, o município “pagou ao Estado 204 mil euros (...) pela cedência do Forte de São João Baptista, por um período de 50 anos, onde, em colaboração com a Universidade do Minho, funcionará o Centro de Divulgação Científica de Actividades Marinhas (CDCAM)”.

A exposição insere-se no conjunto de iniciativas promovidas pela Estrutura de Missão do V Centenário que, na região nortenha, são coordenadas pela Direcção Regional de Cultura do Norte, num projecto que envolve vários municípios. Em Esposende, diz a arqueóloga da autarquia, Ana Almeida, escolheu-se como tema os vestígios arqueológicos que as tempestades cospem para a costa, que presenciou inúmeros naufrágios ao longo dos tempos.

Ainda que o ponto central sejam os objectos do navio quinhentista que se afundou na costa de Esposende, estes não estarão expostos, por uma questão técnica. O local que recebe a mostra “ainda não está nas melhores condições” — principalmente no que diz respeito à humidade e temperatura —, e, por isso, apostou-se em “painéis expositivos”. O que ali se poderá ver até ao final de Outubro relaciona o achado, “que é contemporâneo à circum-navegação”, à própria viagem à volta do globo, mas também a eventos semelhantes ocorridos na Europa e no resto do mundo, explica a arqueóloga.

Mas há mais. Desde que, no Inverno de 2014, se encontraram estes vestígios, têm-se desenvolvido trabalhos de investigação relativos ao navio. Alguns resultados foram transpostos para a exposição: “A partir do momento em que foi localizado [o navio], foi possível fazer o mapeamento de algumas peças de artilharia que estavam visíveis em 2017, assim como uma âncora.” “Em termos de investigação, as madeiras foram objecto de uma tese de doutoramento e também há resultados expostos”, desvenda a também coordenadora do Serviço de Património Natural do município e do Centro Interpretativo do Castro de São Lourenço.

O elogio à arqueologia cidadã

A mostra destaca ainda, para além da carta arqueológica da cidade, o “trabalho feito com a comunidade na arqueologia cidadã, que também é importante e que não é comum”. Foi, aliás, um grupo de cidadãos que alertou o Instituto de Gestão do Património Cultural — que, por sua vez, avisou o município — sobre a importância do que há sete anos se encontrou em Belinho. Um desses achadores foi João Sá, autor das duas esculturas que dão as boas-vindas na entrada para a exposição, que integra a equipa de voluntários do projecto de investigação deste naufrágio. Foi ele que, em 2017, juntamente com o filho Alexandre, descobriu “a localização do naufrágio”.

Por volta de Setembro, adianta Ana Almeida, o espólio do naufrágio de Belinho “será distribuído por locais estratégicos de Esposende”, com recurso “vitrines”, ficando assim acessíveis ao público em geral. O objectivo é fazer com que os achados, espalhados pela cidade, remetam para o que se pode visitar no Forte de São João Baptista — e, assim, Esposende passa a poder navegar pelo passado numa “exposição itinerante”.