Estancar o esvaziamento do interior é missão difícil, mas há esperança
O que pode o interior do país esperar a prazo, como e onde investir e em que estado se encontra essa parte do território, tantas vezes apontada como estando em declínio. O debate do PÚBLICO Ao Vivo acende luzes sobre o tema.
Bárbara Moreira dirige um projecto de integração de pessoas refugiadas ou emigrantes no meio rural: o LAR Project, no concelho da Guarda. Duarte Gomes Marques é responsável pela gestão do Rebanhos + (), ligado à biodiversidade, à adaptação às alterações climáticas e, claro, aos rebanhos, na região do Alvão, Trás-os-Montes. Dois exemplos de iniciativas a funcionar no terreno e apontadas como sendo de boas práticas no combate à desertificação do interior do país.
Muitas vezes esquecido dos grandes debates da Nação, o mundo rural, ou de cidades mais pequenas do que as do litoral, parecem fora da rota da inovação e dos investimentos que geram riqueza. Logo, são menos atractivos e vêem as suas populações “fugir” para outras paragens, sem que haja a devida compensação em novos habitantes. Por isso, importa manter vivo o debate acerca das mais-valias e das fragilidades do interior, fazer uma espécie de análise SWOT (forças, fraquezas, oportunidades e ameaças, na tradução da sigla em inglês).
Dos convidados do PÚBLICO Ao Vivo para o debate “Novas perspectivas para o futuro do interior”, a opinião é transversal: é preciso conhecer de perto a realidade do território, trabalhar em conjunto, investir mais e melhor e captar gente qualificada (de preferência, nova). Eduardo Castro, vice-presidente da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento do Centro, garante mesmo que, a este ritmo de “fuga” de populações do interior e de envelhecimento generalizado da população portuguesa, “em 2040, o país deverá ter um saldo migratório de 70 mil pessoas por ano”.
Sob a égide da Fundação La Caixa têm sido feitos vários investimentos fora da zona litoral, como os acima mencionados. José Pena do Amaral, membro da Comissão de Responsabilidade Social do Banco Português de Investimento, reconhece não ter “a ilusão de mudar o interior, mas sim lançar sementes”. Este ano, os investimentos situam-se na casa dos 2,5 milhões de euros, juntamente com a Fundação para a Ciência e Tecnologia, num total de 10 projectos-piloto, num total de 100 candidaturas.
Mas o cenário actual exige reflexão, como defende Eduardo Castro. “O interior está a esvaziar-se há 150 anos. Entre as décadas de 1960 e 1970, de cada 100 pessoas em idade activa, 70 foram embora”, disse. Em cidades como a Covilhã, a força de trabalho da indústria têxtil foi reduzida a um décimo, produzindo a mesma quantidade do que antes da mecanização. “Já Viseu é um exemplo que contraria o esvaziamento do interior”, acrescentou.
Liliana Simões, da Microninho e da Rede Cuidas, acredita ser necessário investir, “perguntando às pessoas o que precisam e não o contrário. O interior não quer ser o litoral, porque tem as suas especificidades”. Nesse sentido, é fundamental haver boas redes de comunicação rodoviárias, ferroviárias e de Internet (5G). “Se não investirmos nas nossas redes, o interior vai continuar isolado”, reforçou Teresa Sá Marques, professora da Faculdade de Letras da Universidade do Porto e investigadora no Centro de Estudos de Geografia e Ordenamento do Território.
Eduardo Castro acredita que as universidades e os institutos politécnicos podem ser a cola que une o território nacional, enquanto Teresa Sá Marques defende a construção de ligações com ferramentas de futuro, do ensino à telemedicina, das redes de comunicação aos serviços. Pois, como diz Liliana Marques, quem vai para o interior “também tem de saber onde vai criar os filhos”.
Para que o panorama deixe de ser tão preocupante é, pois, defendem os convidados do PÚBLICO, que Governo, autarquias e privados unam forças para que os investimentos em falta sejam feitos de forma adequada. “Se há esperança para o interior? Claro que há, se não, não estávamos aqui”, remata Bárbara Moreira.