Como a tecnologia aumentou a segurança das cirurgias de coluna
As técnicas modernas de imagem, com a utilização massiva da ressonância magnética, melhoraram o entendimento da patologia de coluna. E uma melhor visualização do problema nos exames antes da cirurgia permite também um melhor planeamento da cirurgia.
Os problemas de coluna, e a dor lombar em particular, têm uma grande implicação na saúde. A dor lombar é considerada como o quarto problema de saúde com mais impacto nas sociedades mundiais. Felizmente, cerca de 90% dos doentes têm sucesso com terapêuticas conservadoras, como a utilização de medicação ou tratamentos de fisioterapia.
Grande parte dos problemas de coluna derivam de condições da sociedade moderna, como sejam o sedentarismo e o excesso de peso, pelo que a resolução dos problemas de coluna passam muitas vezes pela alteração de hábitos de vida, com a realização de exercício físico de forma regular, a adoção de melhores posturas no local de trabalho e o controlo do peso. Apesar disso, alguns doentes necessitam de tratamento cirúrgico.
Informar um doente de que necessita de uma cirurgia de coluna é algo com uma carga emocional muito intensa porque há a ideia generalizada que a cirurgia de coluna pode ser muito mutilante e incapacitante. De facto, a história da cirurgia de coluna é relativamente curta, mas os avanços técnicos têm sido muito marcados.
Se antes a cirurgia de coluna se caracterizava por ser muito complexa, de requerer muito tempo de internamento, muito tempo de recuperação e muito difícil para os doentes que dela necessitavam, atualmente é uma cirurgia simples, rotineira, realizada em ambulatório ou com tempos de internamento curtos, da qual os doentes recuperam em pouco tempo e sem grande dificuldade.
Para isto contribuíram grandes avanços técnicos alcançados nos últimos anos que tornam a cirurgia de coluna dos dias de hoje mais segura e eficiente:
As técnicas modernas de imagem, com a utilização massiva da ressonância magnética, melhoraram o entendimento da patologia de coluna. E uma melhor visualização do problema nos exames antes da cirurgia permite também um melhor planeamento da cirurgia.
A melhoria das técnicas de imagem e o seu uso durante a cirurgia permitiram ainda o desenvolvimento da Navegação Intraoperatória, que consiste na realização de gestos e colocação de implantes guiados por computador com base nas imagens reais do doente, o que aumenta de forma significativa a segurança e a eficiência da cirurgia de coluna. Por outro lado, cada vez mais se opta por cirurgias minimamente invasivas.
Hoje em dia, a cirurgia endoscópica, por exemplo, permite remover hérnias discais por uma incisão tão pequena que necessita apenas de um único ponto na pele e da qual o doente recupera muito rapidamente, podendo ter alta no próprio dia do procedimento. O desenvolvimento destas técnicas poderá atingir o patamar no qual poderemos fazer todo o tipo de cirurgias por incisões mínimas, à semelhança do que acontece na cirurgia abdominal com a utilização de técnicas de laparoscopia.
A segurança cirúrgica foi um tema que muito desenvolvimento teve nas últimas décadas sendo hoje em dia rotina, nos melhores Centros de Coluna, o recurso a Neuromonitorização, que consiste na avaliação da função dos nervos durante a cirurgia podendo prevenir lesões neurológicas.
A Neuromonitorização, ao informar o cirurgião, em tempo real durante toda a cirurgia, do estado funcional dos nervos, permite prevenir lesões e melhorar os resultados cirúrgicos. Apesar dos múltiplos avanços tecnológicos, um dos fatores mais relevantes para o tratamento de patologia da coluna consiste na organização dos recursos em Unidades de Coluna com equipas multidisciplinares onde trabalhem em conjunto diferentes especialidades — Neurocirurgia, Ortopedia, Medicina Física e Reabilitação, Reumatologia, etc. — para que possam, de uma forma integrada, proporcionar ao doente o tratamento mais adequado e personalizado.
A discussão de casos clínicos realizada de forma sistemática, o desenho dos tratamentos personalizados a cada doente, o seguimento dos doentes por uma equipa dedicada, com monitorização dos resultados através de questionários periódicos, vai contribuir definitivamente para a melhoria desta condição de saúde que é altamente penalizadora para uma grande parte da sociedade nacional.
O autor escreve segundo o Acordo Ortográfico de 1990