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Um documentário com dez histórias de Coming Out — porque “ainda são necessárias”
Da comunidade LGBTI+ para a sociedade em geral, Coming Out narra as histórias de dez jovens que contaram ao mundo a sua orientação sexual. June, Julian, Sílvia, Hannah, Letícia, Geert, Anna, Albert, Ramón e Blanca são os protagonistas destas afirmações que, "neste momento, ainda são necessárias”, começa por contar ao P3 Inês Peixoto, realizadora do documentário. “[Mas] queremos que no futuro não o sejam— ou sendo necessárias que tenham sempre respostas positivas."
Tudo começou quando Inês integrou um projecto de voluntariado através do Corpo Europeu de Solidariedade, em Janeiro de 2020. Partiu para Barcelona, onde integrou a Taller d'Art Cultura i Creació, uma associação que combate a exclusão social entre os jovens através da arte. Formada em Produção Multimédia, a jovem de 24 anos aliou os conhecimentos audiovisuais com o interesse na luta pelos direitos sociais e inclusão. “Quando estive a trabalhar com esta associação, desenvolvemos a campanha Over the Rainbow em toda a Catalunha, para combater o estigma nas escolas em relação a pessoas LGBT, e eu achei que era uma boa sucessão deste projecto continuar com o tema e fazer uma coisa que eu gostava”, esclarece.
Reuniu então os depoimentos de pessoas com diferentes perspectivas, vivências e nacionalidades sobre o momento da “saída do armário” — pelo qual também passou. Num documentário a quatro línguas – castelhano, catalão, inglês e português –, a realizadora espelha ainda a sua experiência na cidade, onde acabou por se “relacionar mais com a comunidade internacional do que com pessoas de Barcelona”. Mas porquê o coming out? De acordo com Inês, esta é uma experiência que “não acontece uma vez e já está”. Principalmente para quem muda de país e cria novos laços. “Eu sinto que cada pessoa que conheço é um coming out novo”, revela.
Para além disso, esta revelação “é uma coisa que acaba por ser muito específica da comunidade LGBT e que consegue ser bastante diferente porque cada pessoa tem a sua experiência, que pode ir num espetro desde muito boa até muito má”. Inicialmente pensado como algo “da comunidade para a comunidade”, o objectivo principal do documentário era dar a conhecer diversas realidades, aumentando o conhecimento e fomentando a “esperança” daqueles que “se calhar fizeram o coming out agora e não correu assim tão bem”, explica Inês.
No entanto, hoje percebe que mesmo para quem não se identifica como LGBTI+ (lésbicas, gays, bissexuais, trans, intersexo e outras identidades) há uma mensagem a ser passada. “Era um pouco difícil para mim imaginar que pessoas de fora da comunidade estivessem interessadas, mas isso acabou por não ser verdade. É óptimo também haver pessoas cisgénero [que se identificam com o género atribuído à nascença] e heterossexuais que ficaram interessadas em ouvir estas histórias e que gostaram de as ouvir”, afirma. Apesar disso, para que todas as “pessoas que participassem no documentário fossem LGBT”, a realizadora contactou ainda a artista Surma que disponibilizou o tema musical Hemma.
Por medo da exposição e das repercussões que poderiam vir a sofrer, alguns jovens acabaram por desistir de contar a sua história. Ainda assim, conta Inês, mesmo algumas pessoas “que não vêem a luta LGBT como uma grande parte da sua vida quiseram ser entrevistadas". "Todas as vivências são válidas — e eu acho que é esta junção de várias histórias que dá força ao documentário.”
Texto editado por Amanda Ribeiro