Alunos do 6.º ano desenharam uma ciclovia do Amial à Asprela pela “saúde dos cidadãos e do ambiente”

No âmbito do projecto Pedalar, quatro turmas do Colégio Luso-Francês juntaram-se à Câmara do Porto para co-criarem uma ligação ciclável com cerca de 700 metros, deixando o seu contributo para uma cidade mais sustentável e para uma sociedade mais consciente.

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Adriano Miranda
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Se, outrora, a grande missão do ser humano era ir à Lua, hoje é travar “a devastação que está a acontecer” no planeta. Quem o diz é Olívia, 11 anos, integrante de uma das quatro turmas de 6.º ano do Colégio Luso-Francês que, em Outubro, pediram apoio técnico da Câmara Municipal do Porto para desenvolver um trabalho académico sobre a hipotética criação de uma ligação ciclável entre a escola, no Amial, e o pólo universitário da Asprela. Mas, confrontada com a consistência das propostas apresentadas, a autarquia desafiou esta comunidade escolar a tirar a ciclovia do papel. “Vamos deixar a nossa marca neste projecto tão importante para nós e para os futuros cidadãos”, contextualiza Olívia, enquanto espera para assinar as iniciais do seu nome no asfalto, numa acção simbólica que decorreu na sexta-feira, no troço da ciclovia situado na Rua do Conde de Avranches. 

Este é o ponto alto do Pedalar, projecto desenvolvido, ao longo do último ano lectivo, pelos 105 alunos com apoio dos professores e acompanhamento dos técnicos da câmara, e a concretização da promessa que lhes foi feita, desde início, de que participariam em todas as fases do processo, inclusive na materialização da via ciclável. “[O facto de] terem estado tão envolvidos na sua construção faz com que a entendam, promovam e cuidem melhor”, afirma Cristina Pimentel, vereadora com o pelouro dos Transportes, Fiscalização e Protecção Civil. A independente caracteriza o “trabalho de co-criação” entre a Câmara e o Colégio como uma espécie de “troca”. “Eles sempre disseram que, se tivessem condições de segurança, viriam de bicicleta para a escola e nós dissemos: então vamos criá-las.”

Moldar a cidade com imaginação

Antes de ser apresentada à autarquia, a ideia começou a ganhar forma nas aulas de TIC (Tecnologias da Informação e da Comunicação). Inicialmente, os estudantes apenas sabiam que queriam fazer algo que focasse “a sustentabilidade, a mobilidade e a melhoria da sua própria cidade”, relata Paula Castro, uma das professoras responsáveis pelo Pedalar. Procedeu-se, então, ao “levantamento” de soluções de mobilidade suave e activa existentes “noutras cidades”, fez-se um “estudo da envolvência do colégio” para sondar a exequibilidade da abertura de uma ciclovia nas redondezas. 

Segundo a docente, “havia alguns obstáculos” que foram contornados com a parceria com a Câmara do Porto. Entre Novembro e Fevereiro, realizaram-se inúmeras reuniões via Teams – entre alunos, professores e técnicos, o número de participantes chegou aos 111 –, para passar da teoria à prática. “Queríamos era pedalar”, declara Paula Castro. A cada encontro, conta Cristina Pimentel, “os alunos iam dando os seus inputs e desenhos, os técnicos [dos serviços da Direcção Municipal de Mobilidade e Transportes] corrigiam e devolviam-nos com algumas críticas”, desenhando o projecto com base nesse levantamento.

O embelezamento da envolvência da ciclovia foi a maior exigência dos estudantes, concordam Paula e Cristina. “Queriam muito que houvesse verde à volta, [tanto que] ela tem floreiras”, observa a vereadora. E, com a imaginação como única regra, houve mesmo quem propusesse a instalação de uma estátua “com uma bicicleta” na rotunda ali ao lado. “Para eles, a cidade era uma coisa que era possível moldar”, constata. Outras prioridades foram a renovação dos contentores do ecoponto mais próximo e a criação de um parque de estacionamento para bicicletas. 

Uma geração “que se preocupa"

A construção da ciclovia, que será integrada na rede municipal de ciclovias Ciclorede, obrigou a uma reformulação da via pública nos arruamentos que circundam o Colégio Luso-Francês: foram desenhadas duas zonas de partilha para circulação de peões e automóveis junto às duas entradas da escola, na Rua Dr. Carlos Ramos e Rua Sá de Miranda, sendo que a circulação automóvel está limitada a 20km/h e o estacionamento e paragens superiores a 10 minutos estão proibidos.

O entusiasmo dos alunos ouve-se ao longe e nem a chuva, que veio alterar os planos de pintura do pavimento – em vez de se espalharem pela ciclovia, tiveram de se cingir a duas áreas cobertas por tendas – diminui a algazarra. Prova disso é que, mesmo nestas condições, houve quem chegasse de bicicleta. Para Olívia, que se diz parte de “uma geração que já se preocupa bastante com isto”, a ciclovia é, mais que um motivo de orgulho, um meio de lutar pela “saúde dos cidadãos e combater as doenças do ambiente”.

Leonor, 11 anos, concede que andar de bicicleta traz vantagens a todos, pois “podemos fazer mais exercício físico e reduzir a poluição”. Como as colegas, Maria, 12 anos, vê na materialização do projecto um exemplo para o presente e para o futuro. Quando for crescida, “se ainda estiver cá a pintura”, quer mostrar aos filhos o caminho que ajudou a construir para uma cidade mais amiga do ambiente e dos seus habitantes. 

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