Projecto de Souto de Moura vai “triplicar a capacidade de depósito” da Biblioteca Pública Municipal do Porto

A melhoria das condições de circulação entre infra-estruturas e serviços, o depósito de livros em altura num “torreão de arquivo” e a criação de três pátios exteriores integram as bases de projecto apresentadas pelo arquitecto na reunião camarária desta segunda-feira.

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Joana Gonçalves

Mais do que ampliar o edificado da Biblioteca Pública Municipal do Porto (BPMP), Eduardo Souto de Moura propõe, nas linhas de base do projecto para o histórico equipamento, ampliar “o próprio conceito de biblioteca”, adaptada a um tempo em que, considera, esta representa um “ambiente menos austero e mais [parecido a uma] sala de convívio”. O prestigiado arquitecto, galardoado com o Pritzker 2011, esteve presente na reunião do executivo municipal desta segunda-feira para apresentar o programa inicial da empreitada formalizada com a Câmara Municipal do Porto em 2019

O aumento da área de acervo, um dos maiores problemas apontados pela autarquia, é um dos destaques da proposta, e concretizar-se-á através do depósito em altura, designadamente da construção de um “torreão de arquivo” e de uma extensão para 54 km de estantes que permitirá libertar o peso dos livros que estão armazenados no último piso. “Parece-me que [este acrescento] será suficiente para os próximos dez anos”, sustentou o arquitecto. Por outro lado, o próprio depósito de livros terá outras condições de tratamento e manutenção, uma vez que a ideia é instalar, no rés-do-chão, “um posto de desinfestação para os livros antigos”. 

Mais espaços ao ar livre

A par da construção de dois novos edifícios, sobressai a “melhoria de condições de circulação e da eficácia dos serviços”, que deverá colmatar a falta de “ligações circulares” na estrutura actual. “As pessoas, para irem de uma ponta à outra, têm de contornar tudo”, problematiza Souto de Moura. Para contornar esta questão, desenhou “uma galeria com infra-estruturas e um corredor de serviços por onde se distribuirão os funcionários”. O aumento das zonas de circulação e ventilação poderá ser amparado, ainda, por espaços exteriores como o café proposto para a Av. Rodrigues de Freitas, em frente às Belas-Artes, que possa ser frequentado pelo público em geral. “Dá jeito não só à biblioteca, mas também às Belas-Artes, porque há uma ligação muito forte entre as duas.”

As linhas preliminares do projecto contemplam, ainda, a abertura de três pátios exteriores e, consequentemente, a entrada de mais “luz e ventilação”: “um pequeno, nas traseiras da cafetaria, com acesso directo ao exterior”, “um pátio em trapézio, comprido, o dobro do actual [existente no claustro] e outro onde estão os cedros”. Desta forma, haverá um equilíbrio entre um “edifício mais denso, mas também mais airoso”. Haverá, ainda, um elevador central que funcionará como a “espinha dorsal” da BPMP, servindo vários pisos, e um outro que facilitará o acesso de pessoas com deficiência à Biblioteca Infantil, regressando o arquitecto à sala que lhe valeu o Prémio Secil da Arquitectura em 2012.

Obra deverá levar três anos

A empreitada está provisoriamente orçada em cerca de 17 milhões de euros, mas Eduardo Souto de Moura advertiu que “o preço já está ultrapassado devido à inflação brutal que tem havido nos materiais e na mão-de-obra”. De acordo com Rui Moreira, o município dispõe, para já, de uma verba de 12 milhões para a obra, mas deverá “fazer as alterações respectivas” com vista a viabilizar a solução que “desde logo triplica a biblioteca”. “A biblioteca hoje não consegue desempenhar as suas funções”, lamentou o autarca, lembrando os “livros encaixotados” que a BPMP acumulou nos últimos anos. Além da ampliação do espaço, o projecto trará uma “fruição diferente da biblioteca”, nomeadamente “pelo conjunto de actividades que fará dela um sítio de permanência”.

Manuel Pizarro, vereador do PS, declarou que o custo da empreitada, “que poderá ser superior a 20 milhões”, tem de ser “sopesado nas prioridades municipais”, mas ressalvou que a obra de requalificação e ampliação da biblioteca é de “evidente” importância. Pela CDU, Ilda Figueiredo afirmou que a intervenção é “fundamental”, até pelo papel do edifício como “depósito nacional de [livros de] várias áreas”. “Não me assusta o [elevado] investimento para o município.”

Depois de um longo impasse, em que a Câmara do Porto pugnou pela adjudicação da obra a Souto de Moura por ajuste directo, excluindo um cenário de concurso público e evocando o direito de autoria prévia, o projecto avança agora para a fase de concepção de estudo prévio. O arquitecto não quis apontar um prazo, mas diz-se “convencido” de que serão “precisos três anos, dois para a obra de construção civil e um para montagem e ensaios”.

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