A 12 de Dezembro de 2015 decorreu na capital francesa a COP 21 onde foi assinado o Acordo de Paris, um novo tratado internacional com o objetivo de impedir que o aquecimento global chegue aos 2ºC tentando, simultaneamente, que ele não ultrapasse os 1,5ºC, em comparação com os valores pré-industriais. Passado cinco anos e quatro meses da assinatura deste acordo, foi lançado, no dia 20 de Abril de 2021, pela Organização Mundial de Meteorologia das Nações Unidas o relatório sobre o Estado do Clima Global em 2020. Os resultados são alarmantes e demonstrativos de que os esforços até agora desenvolvidos para travar o aquecimento global não estão a ser suficientes.
O discurso de apresentação do relatório por António Guterres, Secretário-Geral das Nações Unidas, ficou marcado pelo seu tom de alarme e preocupação ao frisar os principais dados e acontecimentos que marcaram o ano de 2020 e que revelam um claro distanciamento face às metas impostas pelos Estados no Acordo de Paris. Segundo a informação apresentada no relatório, 2020 foi o terceiro ano mais quente de que há registo, com 1,2ºC acima dos valores pré-industriais. Este valor, alerta o secretário-geral, coloca-nos “muito perto do limite dos 1,5ºC estabelecido pela comunidade científica”. Mas este relatório vai muito além dos valores sobre o aquecimento global.
Durante o ano de 2020, a concentração de gases com efeito de estufa continuou a aumentar e o nível das águas do mar, assim como a acidificação dos oceanos, continuou a subir. Este cenário provoca ainda maior preocupação quando enquadrado num ano particularmente assolado pela situação pandémica da covid-19 que fez parar praticamente toda a produção e actividade humanas, mas que, mesmo assim, se revelou insuficiente para inverter a crescente crise climática. Igualmente inquietante foi a intensificação e ampliação dos fenómenos climáticos algures por todo o mundo.
Os Estados Unidos experienciaram uma frente de trovoadas severas deixando um rasto imensurável de estragos e destroços; a costa ocidental do Brasil vivenciou grandes períodos de seca que conduziram à multiplicação de fogos selvagens; e a região do Corno de África debateu-se com largos períodos de chuvas fortes que motivaram a ocorrência de cheias nos vários países desta região. Estes três exemplos são apenas uma pequena amostra do elevado número de fenómenos climáticos severos que se registaram em todo o mundo no ano de 2020. Perante este cenário de urgência climática, António Guterres terminou o seu discurso incitando a que “todos levassem a mensagem deste relatório em grande consideração" e apelou a uma acção de resposta imediata.
Pensando no que será o futuro e como serão aqueles que irão ocupar os futuros lugares de decisão, o foco deve incidir nas camadas mais jovens da sociedade e na forma como elas se posicionam face a esta crise. Um bom ponto de partida serão os resultados de um questionário pan-europeu de aferição de percepções e atitudes em relação às alterações climáticas, realizado no âmbito do projecto #ClimateOfChange, que foram apresentados em Fevereiro de 2021. Com uma amostra de 22 377 inquiridos entre os 15 e os 35 anos de 22 países europeus, concluiu-se que 46% dos jovens europeus consideram as alterações climáticas o problema mais sério actualmente no mundo, seguidos de 44% que priorizaram a degradação ambiental. No mesmo seguimento, 39% dos jovens está “consideravelmente preocupado” com as alterações climáticas e 31% está “muito preocupado”.
Ainda no âmbito do projecto #ClimateOfChange, está actualmente aberta uma petição pública europeia com o objectivo de sensibilizar os decisores políticos europeus para a necessidade de tomarem medidas urgentes de combate às alterações climáticas. Este é um apelo que se tem vindo a repetir por cada vez mais jovens, o que explica, em parte, as quase 1000 assinaturas. Creio que estes dados nos devem animar e fazer acreditar que ainda é possível travar esta crise.