No top 50 há 47 escolas privadas e só três públicas. O essencial dos rankings em sete pontos

Rankings dos exames e ranking da superação: estas são as duas listas ordenadas do PÚBLICO nesta edição dos rankings. Porque 2020 foi um ano especial, marcado pela pandemia e pelo ensino à distância, houve indicadores que este ano não foram calculados, mas também há novidades. Eis o essencial dos rankings em sete pontos.

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Gabriel Sousa

Efanor estreia-se com a melhor média nos exames

No segundo ano em que levou alunos a fazer exames nacionais, o Colégio Efanor, em Matosinhos, estreou-se no topo do ranking. É o n.º 1, com 72 provas feitas nas disciplinas que entram nas contas do PÚBLICO, e uma média de 18,03 valores, numa escala que vai até 20.

Este ano, os primeiros 40 lugares da tabela do ranking são todos ocupados por escolas privadas. De resto, nunca o ensino particular e cooperativo tinha estado representado de forma tão expressiva no top 50 do ranking: 47 privados para três públicas.

Mas as comparações entre 2020 e anos anteriores devem ficar-se por aqui e, seja como for, não devem esquecer o seguinte: ao contrário do que é habitual, no ano passado os exames nacionais não foram feitos por todos os alunos (não serviram para a conclusão do ensino secundário), apenas pelos que precisaram deles para se candidatar ao ensino superior (ou seja, funcionaram como exames de ingresso).

Assim, menos alunos fizeram provas (houve uma redução de cerca de 30% das provas feitas nas 24 disciplinas para as quais há exame), fizeram-nas essencialmente aqueles que têm aspirações de prosseguir estudos e os próprios exames foram diferentes (as provas de 2020 tinham um conjunto de questões obrigatórias e outras que eram opcionais. Os estudantes podiam responder a todas as questões e, posteriormente, só eram contabilizadas as respostas com melhor classificação). Resultado: as médias nacionais, como já se sabia, dispararam por causa disso, até 3,3 valores no caso de Biologia e Geologia, por exemplo. 

O ranking dos exames PÚBLICO/Católica Porto Business School mostra assim as escolas que melhor se saíram a preparar os alunos para as provas de acesso ao superior, mais do que as que melhor prepararam para a conclusão do secundário. São tidos em conta apenas os alunos que foram à 1.ª fase dos exames nacionais com a pretensão de entrar numa universidade ou politécnico e que fizeram alguma das oito provas mais concorridas. A saber: Português, Matemática A, História A, Biologia e Geologia, Física e Química A, Geografia A, Filosofia e Economia A.

Para ordenar as escolas do melhor para o pior desempenho foram consideradas apenas as 567 onde foram feitas pelo menos 62 provas nestas disciplinas. Estamos a falar assim da análise de 183.262 provas de exame.

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Saiba mais sobre como fazemos os rankings aqui. Leia aqui a reportagem sobre o Efanor e aqui a entrevista ao seu director, alguém que parece ter o dom de levar colégios ao primeiro lugar. Consulte o ranking completo aqui.

A melhor média no ensino público está na Eça de Queirós, na Póvoa

A Escola Secundária Eça de Queirós, Póvoa de Varzim, é, no ensino público, a que tem a média de exames mais alta. Com 15,24 valores, destrona por pouco a Secundária Infanta Dona Maria, em Coimbra (15,20). A Infanta tinha sido, nas duas edições anteriores do ranking do PÚBLICO, a escola com a média mais alta.

Os estabelecimentos de ensino com as médias mais baixas do país foram o Externato Académico, no Porto (9,77), a Secundária José Cardoso Pires, em Loures (9,46), e o Externato Álvares Cabral, em Lisboa (8,67). São, das 567 escolas ordenadas pelo PÚBLICO, as únicas três com média abaixo de dez valores.

Globalmente, nas provas consideradas pelo PÚBLICO, a média aos oito exames mais concorridos foi de 13,19 no ensino público e 14,66 no particular e cooperativo.

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Leia aqui a reportagem na Secundária Cardoso Pires.

Escolas de Felgueiras no topo do ranking da superação

Para além do ranking que compara as escolas apenas com base nas médias nos exames, introduzimos este ano um outro ranking: o das escolas que mais superam o seu contexto socioeconómico.

Na prática, este mostra em que medida a escola ultrapassa ou fica aquém da média de exames que seria esperada tendo em conta o perfil dos seus alunos. Um perfil que é traçado com base em três indicadores: idade média dos que frequentam o 12.º ano, peso dos que têm apoios do Estado, ou seja, que pertencem a famílias de baixos rendimentos, e habilitações dos pais.

Com base na análise deste indicadores (que o Ministério da Educação fornece para o ano lectivo de 2018/19 e por agrupamento escolar), o PÚBLICO e a Católica Porto Business School distribuem as diferentes escolas do país por três tipos de contextos a que damos as seguintes designações: desfavorável, intermédio e favorável. De seguida, calculamos para cada uma um valor esperado face às suas características e ao número de provas realizadas nas diferentes disciplinas.

Como o Ministério da Educação só fornece este tipo de dados para agrupamentos públicos do continente (ficando de fora as escolas privadas e as das regiões autónomas), o ranking da superação só é elaborado para as escolas públicas do continente.

A Escola Básica e Secundária Dr. Machado de Matos, em Felgueiras, com 14,85 de média é a que mais supera o valor que seria esperado (13,05). É por isso a que lidera este ranking.

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Conheça melhor a Escola Dr. Machado de Matos aqui. 

"Um país de atletas"? Um quarto dos alunos do secundário tem 18 ou mais a Educação Física

Nesta edição especial olhamos ainda para as notas internas dos alunos no ensino público. A primeira dúvida era esta: como avaliaram os professores os seus alunos no ano em que não houve exames de conclusão? Houve um aumento da inflação das notas, como alguns temiam? A resposta é não. Mas a análise à base de dados das notas internas, que o ministério forneceu este ano, levanta questões que são válidas em qualquer ano, independentemente das regras especiais que se estabeleceram para 2020. A primeira é esta: as disciplinas opcionais não sujeitas a exame apresentam notas internas bastante mais elevadas quando comparadas com as disciplinas com exame no 12.º ano. Aplicações Informáticas B, uma disciplina opcional disponível em todos os ramos dos cursos científico-humanísticos, registou uma média de 18 valores, com quase 70% dos alunos a conseguir 18, 19 ou 20.

O segundo ponto é este: Educação Física, obrigatória para todos os alunos, apresenta também uma distribuição de notas anormal, com mais de um quarto dos alunos com 18 ou mais valores. E, este ano, esta disciplina começa a contar para a média de acesso ao superior.

Por fim, os dados do ministério mostram ainda o quão longe os alunos mais pobres ficam dos menos pobres também nas notas internas. Já sabíamos que era assim nas médias de exame. Agora ficámos a saber, por exemplo, que Inglês e Geometria são as disciplinas onde se verifica uma maior diferença de desempenho entre alunos abrangidos pelos apoios do Estado e os que não os recebem.

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Veja aqui as notas que as escolas deram aos alunos em ano de pandemia e aqui o que diz o Ministério da Educação sobre as generosas classificações a Educação Física.

O Alentejo com os piores indicadores de equidade

É outra das novidades desta edição. Neste caso, trata-se de um indicador calculado pelo Ministério da Educação, a que a tutela chama “indicador da equidade”. Ele permite aferir os níveis de sucesso educativo dos alunos de condições socioeconómicas mais vulneráveis (beneficiários do programa de Acção Social Escolar), em cada agrupamento de escolas, município e distrito, em comparação com os resultados médios dos alunos com um contexto socioeconómico e um percurso escolar semelhantes, a nível nacional.

Os concelhos a norte tendem a ter melhores resultados. O Alentejo destaca-se pela negativa em vários níveis de ensino. O top dos concelhos mais desiguais do país é este: no 1.º ciclo: Reguengos de Monsaraz, Moura e Vinhais. No 2.º ciclo: Arraiolos, Torre de Moncorvo e Cuba. No 3.º ciclo: Cuba, Vendas Novas e Castro Verde. No secundário: Elvas, Cadaval e Moura. 

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Saiba o que nos mostra o indicador da equidade aqui. Veja aqui a reportagem em escolas do Alentejo. E leia aqui a análise das investigadoras da Católica Porto Business School sobre o assunto.

Barcelos com os melhores resultados no profissional

São vizinhas as duas escolas onde mais alunos conseguem concluir um curso profissional nos três anos previstos. Ficam ambas em Barcelos: a Escola Básica e Secundária Vale d’Este, que é pública, e a delegação local da Escola Profissional Profitecla, instituição privada que tem pólos em diferentes regiões do país.

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Na Secundária de Vale d’Este formam-se técnicos de Multimédia, de Desporto e de Turismo. Todos os alunos que se inscreveram em 2016/17 concluíram a formação em três anos. Foi a única escola onde isto aconteceu em 2018/19, o ano mais recente para o qual o Ministério da Educação disponibiliza estes indicadores. Na vizinha privada, 99% dos inscritos terminaram o curso no tempo esperado. Os restantes desistiram dos estudos ao longo do percurso. A oferta da Profitecla de Barcelos contempla quatro opções: Auxiliar de Saúde, Comunicação, Secretariado, Restaurante/Bar.

Os números das duas escolas de Barcelos estão bem acima da taxa de sucesso em estabelecimentos de ensino com perfil semelhante, em termos de idade dos seus alunos ou de condições de acesso à acção social escolar.

A nível nacional, em 2018/19, apenas 45,7% dos alunos inscritos no último ano dos seus cursos técnicos/tecnológicos e profissionais concluíram a sua formação.

No extremo oposto estão três escolas da Área Metropolitana de Lisboa. Na Escola Profissional de Almada, privada, nenhum dos 79 alunos inscritos em 2016/17 terminou o curso nos três anos previstos e 13% até já desistiram da escola. Em escolas com perfil semelhante, metade dos alunos consegue concluir a formação no tempo esperado. A Escola Profissional Almirante Reis, em Lisboa (5%) e a Escola Básica e Secundária Ibn Mucana, em Alcabideche, no concelho de Cascais (9%) têm também baixas taxas de conclusão. Além disso, 14% e 18%, respectivamente, dos seus alunos desistem ao longo do percurso.

Neste particular, a pior prestação é da Escola Secundária de Molelos, em Tondela, onde metade dos inscritos num curso profissional há três anos abandonou entretanto os estudos. Há nove escolas onde 40% ou mais dos alunos simplesmente deixaram de estar matriculados no sistema de ensino.

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As desigualdades que 20 anos de rankings revelaram

Em 2021 publicamos pela 20.ª vez os resultados das escolas. São 20 anos de rankings feitos a partir dos dados que foram sendo fornecidos pelo Ministério da Educação e que se foram complexificando, permitindo um retrato progressivamente mais completo do que se passa nas escolas.

Nesta edição revisitamos 20 rankings do PÚBLICO e recordamos o que eles revelaram em cada ano. Ouvimos Júlio Pedrosa, o ministro da Educação que em 2001 facultou pela primeira vez os resultados dos exames escola a escola, mas que nunca foi favorável a que se comparassem estabelecimentos de ensino só a partir desses dados. E ouvimos também David Justino, que foi o único ministro até hoje a encomendar um ranking oficial, porque acredita nas vantagens destas listas ordenadas. Falámos com escolas que melhoraram e com escolas que pioraram desde então. Procurámos razões para que algumas nunca tenham conseguido sair do fim da lista.

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Publicamos por fim um artigo de opinião de António Barreto. Em 2001, no primeiro ranking do PÚBLICO, escrevia no suplemento especial que então publicámos: “Admitiu-se, finalmente, que a escola não pertence exclusivamente aos professores e ao ministério.”

O sociólogo prosseguia: “Dentro de poucos anos, far-se-ão melhores e mais completas classificações. Outras entidades independentes poderão analisar estas bases de dados. As escolas com melhores resultados sentir-se-ão orgulhosas e tentarão não perder os louros. As descontentes, passada a vergonha, esforçar-se-ão por fugir dos maus lugares ocupados agora. Todos poderão comparar pontos fortes e fracos de cada um e identificar problemas. Os pais terão argumentos para fazer pressão sobre as escolas, as autarquias e o ministério, no sentido de melhorar a formação dada aos seus filhos. As universidades e as empresas poderão estar atentas às condições institucionais dos candidatos a futuros estudantes ou empregados. Os professores terão instrumentos de argumentação, junto do ministério, cada vez que os seus defeitos sejam resultado de deficiências materiais. O próprio ministério terá mais meios de análise e avaliação. O ministro fica a saber que nós sabemos pelo menos parte do que se passa nas escolas. E todos teremos um pouco mais de informação sobre o estado do ensino no nosso país.​” 20 rankings depois, António Barreto regressa ao tema.  E faz o balanço.

Leia mais aqui e veja os gráficos interactivosE saiba como o secretário de Estado adjunto e da Educação, João Costa, defende, nesta entrevista, que é preciso repensar o recrutamento dos professores no ensino público.

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