Tornam-se frequentes as notícias que relatam o agravar das alterações climáticas, um novo recorde no aumento da temperatura do planeta ou o aumento das emissões de dióxido de carbono (CO2) para a atmosfera. Mas, no meio de tantas estatísticas e previsões, tendemos frequentemente a esquecer que a crise climática não é apenas um conjunto de dados científicos. Estamos a falar de um problema social, um assunto de direitos humanos.
As alterações climáticas, à semelhança da covid-19, têm implicações globais, não escolhendo fronteiras, sendo, no entanto, de realçar o impacto nas populações mais desfavorecidas, que tendem a sofrer mais com os seus efeitos, pois têm menos meios para arcar com gastos defensivos contra consequências das alterações climáticas, como o aumento do nível das águas do mar ou da poluição.
Um exemplo da ligação das alterações climáticas aos direitos humanos trata-se do acesso à água, uma vez que o maior aquecimento do planeta representa também uma maior escassez de água, com tudo o que isso implica, para a higiene, mas também para a produção agrícola ou industrial, colocando milhões expostos a situações de fome.
Em Portugal, por exemplo, enfrentamos um risco de escassez de água já nos próximos 20 anos, segundo um recente estudo da Gulbenkian, que analisou o uso da água em Portugal. A questão da escassez de água e a seca foi, aliás, considerada uma prioridade da Presidência Portuguesa do Conselho da União Europeia, tendo em conta que as alterações climáticas estão a agravar as pressões sobre a água, através da alteração do regime de precipitações combinado com o aumento das temperaturas e provocando mudanças significativas em termos de disponibilidade dos recursos hídricos. Tornando-se a água um recurso escasso, existe desde logo o escalar de tensões sociais e o aumento do número de deslocações forçadas.
No que diz respeito às migrações, as alterações climáticas já atingem milhões de pessoas, forçando-as a sair das suas casas. O número de deslocados por razões climáticas é superior ao número de deslocados por perseguição ou conflitos armados. Apesar de, como constatámos anteriormente, as alterações do clima afectarem essencialmente pessoas em países mais pobres e menos resilientes, na Ásia e em África, estas têm impacto a nível global.
Estima-se que, dentro de 30 anos, uma em cada 45 pessoas seja refugiado climático, ou seja, pessoas forçadas a moverem-se devido a condições climatéricas adversas (de realçar que não existe ainda uma definição jurídica devidamente uniformizada). E esta não é uma realidade tão longínqua quanto possamos pensar, sabendo-se que, em Portugal, há muitas regiões costeiras que estão em risco, prevendo-se a inundação de diversas localidades ao longo da costa, afectando as populações que aí residem.
Estes dois exemplos, mais próximos do que muitas vezes pensamos, acentuam a necessidade de mudanças estruturais. De recontextualização da nossa relação com a Natureza e do sistema produtivo. E, para isso, é necessário uma acção e esforço colectivo. É aí que colectivos como o Lidera querem actuar. Porque esta é a luta mais importante das nossas vidas.