Um olhar sobre o ensino português do século XXI

A educação promove a partilha de conhecimento e de valores, visando o desenvolvimento e a transformação do indivíduo. Deste modo, atendendo às constantes mudanças no mundo actual, a educação tem vindo a adaptar-se a esse desenvolvimento?

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PAULO PIMENTA

Numa altura em que os exames nacionais do ensino secundário se aproximam uma vez mais, questiono: que conhecimentos e competências precisam os jovens de aprender e adquirir na escola para se prepararem para os desafios da sua vida futura?

São perguntas como esta que fizeram parte do meu ensino secundário. Necessárias e difíceis, mas até hoje sem resposta. Sendo aluna na terceira década do século XXI, em que o mundo está em constante mudança a todos os níveis, derivando, muitas vezes, do avanço tecnológico, pergunto-me se a educação portuguesa tem acompanhado essas transformações.

A situação pandémica que actualmente vivemos obrigou já a duas interrupções de aulas em ambiente escolar presencial. Provocou a urgente procura do Governo por respostas para o atraso da aprendizagem dos conteúdos e para a avaliação dos alunos. Foi, assim, necessário encontrar a solução nas novas tecnologias. Uma forma de ensino que exigiu a rápida adaptação de toda a comunidade escolar e que, ao mesmo tempo, tem testado o enquadramento de um novo modo de leccionar e aprender na educação. No entanto, os professores continuam a transmitir uma grande quantidade de informação, agora através de um ecrã, e os alunos do outro lado do mesmo, muitas vezes de câmara desligada, a fazerem aquilo que os professores tentavam impedir nas aulas presenciais.

Pergunto-me se o desinteresse demonstrado pela generalidade dos alunos poderá reflectir implicitamente o quão necessário é haver uma mudança no sistema educativo. A educação promove a partilha de conhecimento e de valores, visando o desenvolvimento e a transformação do indivíduo. Deste modo, atendendo às constantes mudanças no mundo actual, a educação tem vindo a adaptar-se a esse desenvolvimento?

O valor dado por parte do sistema educativo português à quantidade de matéria nos programas, de carga horária exigida e, também, de avaliação, reflecte no comportamento dos alunos essa dimensão quantitativa. A magnitude dos inúmeros momentos de avaliação interna e externa ao longo do percurso escolar provoca uma pressão generalizada, tanto pelos próprios alunos como pelos professores. Além disso, quando as escolas anseiam um desempenho positivo dos alunos nas avaliações externas, a resposta comum centra-se no reforço do ensino dessas disciplinas. A exigência e a relevância das avaliações deveriam ser repensadas e questionadas, de modo a redefinir a sua importância e objectivo.

Tal como é tão transmitido nas escolas, os exames nacionais e os seus resultados detêm um elevado significado no decorrer do ensino secundário e no consequente percurso universitário de um estudante. No entanto, olhando o futuro, deveríamos saber que esse tipo de avaliação afere apenas uma pequena parte do desejado perfil de um aluno preparado para a sua vida futura.

Num mundo onde a facilidade no acesso à informação está a crescer exponencialmente, talvez o que diferencie os futuros trabalhadores sejam as suas competências sociais, de espírito crítico, de autonomia e de criatividade e a forma como ultrapassam os desafios profissionais. É, assim, fundamental repensar o modelo de educação nas escolas portuguesas, visto que é necessário que este acompanhe a mudança e as competências agora exigidas na vida profissional e social. Devemos, por isso, reflectir no que se ensina, como se ensina e na função das escolas nesse processo de aprendizagem.

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