O meu filho está dependente dos videojogos?
É fundamental que os pais/cuidadores estejam devidamente atentos a todos estes sinais de alerta, por forma a prevenir a escalada para um comportamento mais problemático.
“O meu filho passa os dias a jogar.”
“Quando digo que tem de desligar, torna-se agressivo, grita e dá murros no sofá.”
“A vida dele gira em torno dos videojogos e dos jogos no telemóvel.”
Identifica-se com estas frases? Soam-lhe de uma forma familiar? Se sim, então pare para pensar. Pois o seu filho pode apresentar um comportamento problemático de jogo.
Os comportamentos de jogo nem sempre são percepcionados pelos pais como um comportamento de risco, ao contrário do que acontece com outro tipo de comportamentos (p. ex., atividades sexuais de risco, consumo de álcool ou drogas). Assim, as crianças ou jovens podem manter estes comportamentos durante longos períodos de tempo sem que os pais se apercebam, acabando por evoluir para comportamentos de jogo problemáticos. Num contexto pandémico e de estudo em casa, estes comportamentos têm vindo a exacerbar-se, associados a um aumento de stresse e tantas vezes mascarados como uma forma de interacção com os amigos.
Os videojogos (vulgarmente designados como “gaming”) têm surgido associados a comportamentos problemáticos de jogo por parte dos jovens. Estes dedicam a maior parte do seu tempo aos jogos online, isolando-se e deixando de investir nas relações com os outros, ignorando mesmo as suas responsabilidades. Jogar pode também ser uma forma de evitar sentir emoções mais desagradáveis ou lidar com conflitos internos, nas relações familiares ou com os pares.
O comportamento problemático de jogo é considerado uma dependência progressiva, que se manifesta através de seis fases: (1) saliência: aumento de preocupação relativa ao jogo; (2) tolerância: necessidade de jogar regularmente e durante períodos de tempo mais elevados para alcançar a satisfação; (3) sintomas de abstinência: preocupação, ansiedade ou irritabilidade quando tenta parar o comportamento de jogo; (4) recaída: tentativas mal sucedidas de controlar o comportamento de jogo; (5) perda de controlo: permanência do jogo, apesar das diversas consequências negativas vivenciadas, e 6) modificação de humor: praticar a atividade de jogar para tentar obter uma modificação no humor, como jogar para se sentir mais excitado (o chamado “Buzz”) ou mais calmo.
O comportamento de jogo tem um claro impacto negativo no bem estar das crianças e jovens, a curto, médio e longo prazo, quer a nível comportamental (p. ex., cansaço excessivo, organizar a vida em função de jogar), quer social (p. ex., pouca participação nas actividades escolares e familiares) e de saúde mental (p. ex., alterações emocionais, ansiedade, humor depressivo). É também frequente observar-se uma diminuição do rendimento académico, procrastinação, afastamento da família e dos amigos, alterações nos padrões alimentares ou de sono, a par de uma sensação de menor felicidade e satisfação. Em simultâneo, podem verificar-se consequências a nível da saúde física.
Sabemos que são poucas as crianças ou jovens que pedem ajuda, uns por não reconhecerem a existência de um problema e, outros, inibidos pelos sentimentos de culpa ou vergonha. Assim, é fundamental que os pais/cuidadores estejam devidamente atentos a todos estes sinais de alerta, por forma a prevenir a escalada para um comportamento mais problemático. Caso o identifiquem, devem pedir ajuda especializada, por forma a promover a mudança de atitudes no que concerne ao jogo e o desenvolvimento de competências emocionais e sociais.