Do ódio que tudo arrasta, toda a gente fala que mata, mas ninguém fala daqueles que o dirigem
Urge confrontar e condenar o discurso de ódio em todas as suas formas. Do mais velado ao explícito.
Numa semana tivemos os media e Comunicação Social (CS) a servir toda uma campanha de perseguição racista orquestrada por um partido de direita em crise. No seu âmbito, os media organizaram um falso debate com uma militante antirracista num show com um individuo que procurou com truques e manhas sujar um debate que urge ser feito na TV portuguesa. Com sua postura sofística e recorrendo a desonestidades intelectuais e outras farsas ideológicas.
Vimos um cidadão e militante antirracista ser vítima de uma campanha da mais abjecta possível só porque disse umas verdades desconfortáveis para quem glorifica crimes coloniais e repudia atos de heroísmo democráticos.
Incluso, com mobilização de media locais publicando textos de ‘opinião’ a repetir até à exaustão a cartilha colonialista.
Paralelamente, foram ainda orquestradas duas campanhas persecutórias racistas contra menores de idade. E aqui levanta-se o grande problema do anticiganismo institucional das ONG de ‘defesa animal’ e sua cooptação pela extrema direita, bem como a livre ação desta para agredir sujeitos racializados.
Num caso, um jovem menor de idade é assediado por uma estranha. Sua imagem fotografada e publicada sem o seu consentimento. Acusado em falso de roubo e maus tratos a animais que a GNR vem a comprovar serem da família, com chip, vacinados e seguidos por serviço veterinário.
Numa campanha promovida e intensificada por uma ONG de ‘Denuncia Animal’, com teoria de conspiração de extrema direita e fundamentação na pertença etnorracial das vítimas.
Num outro caso, um líder neonazi conhecido de uma certa direita publica um vídeo de crianças a brincar (como o recolheu?) sem o seu consentimento, expondo menores de idade à sua rede de ódio como base para acusações racistas.
E nisto, numa semana tivemos um partido político, uma ONG de ‘defesa animal’ e um nazi com campanhas simultâneas focadas em agredir, desvirtuar e atacar pessoas racializadas e boicotar um debate cujo adiamento coloca em causa a vida dessas mesmas pessoas. Coincidência?
Estes casos são paradigmáticos do já total descontrole sob o discurso e cultura de ódio gerador de ataques que impactam na vida de milhões de pessoas.
É normal: perseguir o sujeito racializado; atacar a mulher; desprezar a pessoa LGBT; tirar direitos a quem tem de ficar em casa e a quem não pode (fora a cultura pidesca de denunciar o vizinho).
E ao mesmo tempo, é normal: ter neonazis de camisinha a falar nas TVs ou a protagonizarem um romance na capa de um jornal; eleger extremistas de direita; implementar políticas segregacionistas; recorrer ao punitivismo e ao ataque desproporcional; reduzir o racismo, machismo, sexismo e homofobia a uma ‘questão de opinião’ quando é crime.
É normal desvirtuar debates na TV com desonestidades várias por quem ataca movimentos antirracistas. E ainda um funcionário publico, como um eurodeputado, fazer campanha no País contra um seu cidadão e a causa antirracista.
É normal, mas não é saudável.
E aqui são chamados a responder os partidos de “esquerda”, que se calam. Os de direita que optam pela cumplicidade. E demais instituições democráticas, dos media ao TC, que legitimam o ódio e suas organizações descaradamente.
Reposicionem-se no lado certo com coragem e abertamente.
Urge confrontar e condenar o discurso de ódio em todas as suas formas. Do mais velado ao explícito.
Urge condenar organizações por práticas racistas. Urge ser severo e exemplar com todas as formas de ódio que negam, que perseguem e que perigam a vida e dignidade humana.
É preciso proteger as pessoas. Acabar com a falsa dicotomia com a liberdade de expressão, que acaba na mentira, na calúnia, nas injúrias, em campanhas de perseguição fundadas no ódio e acusações racistas. E sabem-no.
Viver em Sociedade é fazer escolhas.
Não pode valer tudo. Ou se cumpre a promessa da equidade no tratamento. Ou a democracia liberal acaba. E um outro regime terá de lhe substituir.
Pessoas primeiro. O ódio nunca.
Militante anti-racista