Envolver as pescas na governação dos oceanos
Políticas isoladas, desequilibradas ou desproporcionais, sem envolver o pescador — aquele que bem conhece o mar —, ainda que muito virtuosas, correm sério risco de fracasso.
Resultado de uma deficiente gestão de recursos, especialmente em terra, os Oceanos e os ecossistemas marinhos encontram-se hoje num equilíbrio muito instável, pelo que urge a definição de políticas de conservação e, mais importante, de recuperação. Conservar não chega, é fundamental recuperar espécies e habitats. O sector das pescas é, sem dúvida, dos que mais sofre com esta degradação. É também por isso o que tem de ser ouvido e envolvido na Governação dos Oceanos.
Políticas isoladas, desequilibradas ou desproporcionais, sem envolver o pescador — aquele que bem conhece o mar —, ainda que muito virtuosas, correm sério risco de fracasso. Comunidades costeiras inteiras vivem e dependem das pescas. Em Portugal, homens e mulheres que fazem desta a actividade de uma vida, têm de ser envolvidos na urgente recuperação dos nossos oceanos. É fundamental renovar um sector envelhecido, melhorando condições de trabalho, atraindo jovens para o sector, investindo em embarcações seguras e facilitando o acesso aos fundos comunitários, em especial ao FEAMPA — Fundo Europeu dos Assuntos Marítimos, das Pescas e da Aquicultura.
Apostar na literacia do Oceano e assegurar uma remuneração justa aos que trabalham na Economia Azul é também essencial, já que quem interage com o mar e o conhece de forma transversal conseguirá preservar este importante ecossistema. O pescador não deve ser olhado como o “predador do oceano” mas sim como alguém que o protege e tem todo o interesse na sua conservação. Não podemos aniquilar um sector importante da economia nacional e europeia, nomeadamente a pesca artesanal e sustentável, da qual dependem muitas famílias. A frota pesqueira europeia pode ter futuro — haja vontade política e não se lhe volte as costas — na linha da frente na recuperação dos ecossistemas marinhos.