A Ciência e a pandemia
A única solução, mais ou menos eficiente, até agora parece ser fechar, fechar, fechar, quando deveria ter sido prever, prever, prever. Para prever é preciso uma análise alicerçada pela Ciência. O valor da ciência é compreender o passado, mas acima de tudo preparar o futuro!
Não sou nem virologista, nem médica, nem ligada à área da saúde, sou Eng.ª Agrónoma, estudei biologia, obviamente, e acredito 100% no método científico. Tenho ainda uma forte convicção de que grande parte dos impactos negativos a que temos vindo a assistir, a todos os níveis (sociais, ambientais, económicos), têm sido agravados pelo forte alheamento entre a ciência e a política.
Esta é, aliás, uma questão cada vez mais discutida: a necessidade de definir políticas públicas baseadas em evidência científica. É cada vez mais importante e aparentemente consensual. Mas, como diz o ditado, as aparências iludem; ouve-se a voz da ciência para, aparentemente, se decidir com base em evidência científica, mas, na realidade, pesa mais na decisão final o impacto político da mesma.
Os cidadãos irão ou não gostar da decisão, em consequência irão, mais tarde, votar como? É fundamental esquecer os votos e pensar no futuro!
A pandemia deu cabo das nossas vidas, era totalmente imprevisível e, mesmo sendo aparentemente previsível desde dezembro de 2019, curiosamente parece continuar a ser imprevisível. E é isto que é estranho!
Pergunte-se a um virologista se um vírus sofre mutações, eventualmente até a um estudante de biologia, a resposta será “sim”! Sem hesitações! Veja-se o exemplo da gripe e da vacina da gripe!
Onde está o espanto com as mutações, ou com o tempo que a vacina nos protege? É expectável!
De tudo o que não sabíamos, e era muito, sobre como lidar com um surto pandémico da dimensão deste, esta era uma questão que não oferecia muitas dúvidas: o vírus ia sofrer mutações!
É cansativo ouvir falar diariamente das novas mutações, com espanto e sobressalto! É cansativo ouvir falar diariamente da 3.ª vaga, com espanto e sobressalto!
Penso que se sabia que o vírus se tornaria endémico, que não era suposto desaparecer, antes pelo contrário, era suposto sofrer mutações! E há reuniões periódicas com os cientistas, e seguramente tudo isto é dito, claro como água, isto era o conhecido no meio do desconhecido!
Porque estamos então, passado um ano, quase exatamente onde estávamos há um ano atrás? Exatamente não, muito mais pobres, com muito mais pessoas em desespero, com uma sociedade muito afetada económica e psicologicamente e em parte porque nos tiraram, de repente, a possibilidade de afetos. E sobre isto não se fala!
Tirando o confinamento, que parece importante, que medidas para além do apoio económico, que é mais um placebo porque escasso e tardio, se tomaram para evitar o caos psicológico, económico, social e educacional que as famílias, dos mais novos aos mais velhos, estão a sofrer?
Haverá? Não encontro! As diferentes vagas eram expectáveis. A única solução, mais ou menos eficiente, até agora parece ser fechar, fechar, fechar, quando deveria ter sido prever, prever, prever.
Para prever é preciso uma análise alicerçada pela Ciência. O valor da ciência é compreender o passado, mas acima de tudo preparar o futuro!
Nota: Texto escrito na qualidade de investigadora