Fim-de-semana de nervos, aviões e navios de guerra no Mar do Sul da China
Primeiro fim-de-semana de Joe Biden na presidência marcado por incursões militares da China, com uma frota militar chinesa a entrar no território de Taiwan, e com os Estados Unidos a responderem com a chegada de navios de guerra ao Mar do Sul da China.
O fim-de-semana no Mar do Sul da China foi de nervos e grande movimentação de aviões e navios de guerra. Pequim escolheu-o para, pela primeira vez, os seus aparelhos militares entrarem no espaço de defesa aérea de Taiwan. Washington para enviar para a região estratégica uma frota de navios, comandada por um porta-aviões, em “defesa da liberdade das águas”.
Não foi um fim-de-semana qualquer, foi o primeiro da presidência Joe Biden, que convidou para a sua tomada de posse, na quarta-feira, o representante de Taiwan nos Estados Unidos, Hsiao Bi-khim. Desde 1979 – quando Washington abriu laços diplomáticos com a China de Mao, deixando de reconhecer a China fundada por Chiang Kai-shek como país soberano - que um representante de Taipé não assistia à cerimónia.
Biden deixou claro que o convite não foi apenas uma cortesia, mas um sinal de um compromisso sólido. No sábado, a nova Administração pediu ao Governo chinês para não pressionar Taiwan. Neste domingo, o porta-voz do Departamento de Estado, Ned Price, disse que é “com grande preocupação” que assinalam a tentativa em curso da Republica Popular da China para “intimidar os seus vizinhos, incluindo Taiwan” e pediu a Pequim para “parar com as pressões diplomática, militar e económica contra Taiwan”. O compromisso com a ilha, frisou, está “sólido como uma rocha”.
O filme dos acontecimentos começou na sexta-feira, com os legisladores chineses a aprovarem uma lei que permite à sua poderosa Guarda Costeira - que faz parte do aparelho militar - disparar contra embarcações estrangeiras de qualquer género quando considerar que “a soberania nacional, os direitos soberanos e a jurisdição forem ilegalmente infringidos por organizações estrangeiras ou indivíduos”.
A lei é válida para barcos de pesca, para navios mercantes, para vasos de guerra. E ganha um peso maior porque nos mares da China (Mar do Sul e Mar Oriental) são várias as ilhas disputadas entre Pequim - que as considera parte do seu território histórico, além de serem ricas em pesca e recursos naturais - e outras capitais (do Japão, Vietname, Malásia, Filipinas, Burnei e Taiwan). A lei permite também à Guarda Costeira demolir estruturas de outros países construídas em recifes reivindicados.
No sábado, uma frota miliar aérea chinesa entrou no espaço de defesa de Taiwan junto às disputadas ilhas Pratas. A China faz com frequência missões junto a Taiwan, mas neste fim-de-semana, notam os analistas, não foram usados aviões de reconhecimento, como habitualmente, mas de guerra - oito bombardeiros e quatro caças. Neste domingo, a missão dentro do espaço aéreo de defesa de Taiwan repetiu-se, com 18 aeronaves, 15 delas caças.
Na noite de sábado, uma frota de navios de guerra dos Estados Unidos chefiada pelo porta-aviões USS Theodore Roosevelt entrou no Mar do Sul da China, perante as decisões e iniciativas de Pequim, visando assegurar o controlo territorial e das águas.
O comandante da frota, almirante Doug Verissimo, chamou-lhe operação de “rotina”, mas acrescentou: “Para assegurar a liberdade das água, construir parcerias e garantir a segurança marítima.” “Com dois terços do tráfego mundial a passar por esta importante região, é vital que mantenhamos a nossa presença e que continuemos a promover a ordem baseada nas regras que nos permitem prosperar a todos”, disse Verissimo.
A China protesta com frequência com a presença de navios americanos perto das ilhas que ocupa no Mar do Sul da China e no Oriental, que banha o Japão e a Coreia. Segundo a agência noticiosa japonesa Jiji, o Japão tem-se queixado ao aliado americano sobre a cada vez maior incursão de navios chineses junto às disputadas ilhas Senkaku (Diaoyu para a China).
O Governo chinês não comentou ainda a presença da frota naval dos EUA. Noutras ocasiões, defendeu as suas movimentações como uma defesa de soberania e uma manobra de dissuasão para impedir um choque Pequim/Washington quanto a Taiwan.
Biden não fez qualquer alusão à China na sua tomada de posse ou nos quatro dias que se passaram sobre ela. Mas o seu novo secretário de Estado, Antony Blinken, disse já no Senado que Donald Trump tinha razão sobre a China - apenas tomou as decisões erradas.
“Há crescentes aspectos conflituantes na relação [EUA/China]; sem dúvida há aspectos de competição, mas também há aspectos de cooperação, quando é do nosso interesse mútuo”, disse Blinken, acrescentando: a China é, “sem dúvida”, o maior desafio dos EUA e de qualquer outra nação.