Puddino: Um pudim que “lembra a casa da avó, lembra colo”
“Vó, tem pudino?”, perguntava, quando era pequeno, o irmão de Adriana. E foi esse o nome que esta brasileira que veio viver para Portugal há três anos deu à loja que abriu com o namorado português, Francisco, em Lisboa. Para vender pudim de leite condensado, claro.
É difícil para quem não cozinha “absolutamente nada” encontrar uma receita que impressione positivamente o namorado, sobretudo quando ele é bom cozinheiro e “a pessoa mais crítica que existe à face da Terra”. Felizmente, Adriana Moraes conhecia uma receita – só uma, mas foi suficiente. Ele não só gostou como comeu tudo e desafiou-a a abrir uma loja para a vender. Foi assim que nasceu a Puddino, de portas abertas no bairro lisboeta de Campo de Ourique desde 16 de Novembro.
Adriana é de São Paulo, no Brasil, e chegou a Portugal há três anos, cansada de um quarto de século a trabalhar no sector financeiro e com planos para mudar de vida. Mas, não sabendo cozinhar, dificilmente alguma coisa ligada à cozinha estaria no seu horizonte. Conheceu Francisco Costa, namorado e actualmente também seu sócio na Puddino, e, desafiada por ele a fazer qualquer coisa para um jantar, lembrou-se do pudim.
No Brasil, explica Adriana, o pudim – uma versão modificada do pudim de leite português, ao qual os brasileiros juntaram… leite condensado, what else? – tornou-se uma febre. “Esse conceito de boutique de pudim no Brasil é uma coisa muito comum, começou há uns 10 ou 15 anos. Tal como o brigadeiro, o pudim é também uma instituição brasileira. ”E um dos debates mais explosivos é em torno do tema dos “furinhos” – deve ou não deve ter? Claro que é tudo uma questão de preferência, e, na parte técnica, tem a ver com incorporar mais ou menos ar, mas Adriana é da “escola” dos que gostam do pudim suave, acetinado e sem furinhos.
O entusiasmo de Francisco com a ideia de comercializar o doce – aproveitando uma loja que já tinha comprado e para a qual só precisava de um projecto – contagiou imediatamente Adriana. “Desde o começo, ele estava do meu lado”, conta. “Quantas noites eu passei namorando o fogão e chorando porque não saía do jeito que eu queria.” Mas, depois de ter levado o pudim como sobremesa para alguns jantares de amigos, e de de todas as vezes ele se ter revelado um sucesso, Adriana começou a receber encomendas. No Natal passado, a coisa já tinha pegado. “Levei um susto”, recorda. “Falei, Adri, o que é isto?”. Trabalhou “19 horas por dia”, vigiando o fogão, “mania da perfeição”.
E, a cada novo pudim que saía do forno, a ideia da loja ia ganhando forma. Para quem “já não aguentava mais o mercado financeiro”, o negócio do pudim aparecia cada vez mais como uma alternativa que fazia sentido. O nome nasceu também de uma daquelas inspirações repentinas. “Quando era pequeno, o meu irmão chegava a casa da minha avó e falava ‘vó, tem pudino?’”. Ficou Puddino e nem podia ser de outra maneira para um doce que tem tudo a ver com a família e as memórias de infância.
“O pudim traz uma memória afectiva muito grande. Ele lembra festa, lembra casa da avó, lembra colo, lembra amor, família.” Adriana recorda-se bem de ver a avó e a mãe debruçadas sobre o pudim espetando um palito para ver se este saía limpo, sinal de que já estava cozido. Todos os brasileiros a viver em Portugal reconhecem-se nestas memórias, acredita. Mas se no início esse seria o seu público preferencial, rapidamente percebeu que os portugueses também se deixam conquistar por esta versão do pudim.
Afinal, este é, na sua origem, um doce português, feito à base de leite e ovos, e cozido em banho-maria numa forma que leva previamente caramelo. Ao incorporar o leite condensado – que no Brasil é conhecido como Leite Moça, marca da Nestlé assim chamada por ter uma camponesa na embalagem – o pudim ganha uma textura um pouco mais resistente à colher. O básico, que é também o campeão de vendas da Puddino, é este, mas Adriana criou outros oito sabores: café, chocolate belga, coco, fava de baunilha, laranja, limão, nutella e pistácio.
Um ponto importante para Adriana e Francisco é garantir que todo o processo se mantém artesanal – ou seja, os pudins são feitos na cozinha da Puddino, não levam conservantes (têm, por isso, um prazo de duração de seis dias no máximo), integram ingredientes “verdadeiros” (não são usadas essências) e são entregues (na zona da Grande Lisboa e Cascais) pessoalmente pelo Francisco, cujos dois filhos são também sócios no negócio e cúmplices nesta aventura.
Francisco explica que optaram por controlar pessoalmente o serviço de entrega ao domicílio para garantir que o pudim chega perfeito a casa do cliente, sem se partir. Nem sempre é fácil, confessa – uma travagem mais brusca numa viagem de carro e podem surgir rachas no pudim. Mas, garante, quando isso acontece, volta atrás para ir buscar outro.
Cada pudim vai dentro da forma, numa caixa da Puddino que inclui instruções sobre como se deve desenformar: aquecer um pouco a forma por baixo, para derreter o caramelo, soltar dos lados com uma faca sem pontas, colocar um prato em cima, e virar “sem medo de ser feliz”, como diz Adriana.