OMS desaconselha o uso de remdesivir
Não há provas suficientes de que este medicamento melhore a sobrevivência ou a necessidade de ventilação dos doentes de covid-19, dizem especialistas do Grupo de Desenvolvimento de Orientações da Organização Mundial da Saúde.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) não aconselha o medicamento antiviral remdesivir a doentes hospitalizados com covid-19, independentemente da sua condição, segundo divulga esta sexta-feira a organização em comunicado.
Especialistas internacionais do Grupo de Desenvolvimento de Orientações da OMS indicam, na revista British Medical Journal (BMJ) desta sexta-feira, que não há provas suficientes de que este medicamento melhore a sobrevivência ou a necessidade de ventilação dos doentes.
Este medicamento tem sido palco de polémicas mundiais: embora alguns estudos digam que pode ter um efeito positivo na recuperação dos doentes, um grande estudo da OMS (o Solidarity) concluía recentemente que não reduziu a mortalidade e não teve efeitos na ventilação nem no tempo de hospitalização.
A recomendação faz parte do tipo de orientações da OMS que está em constante evolução sobre o novo coronavírus. Estas orientações permitem que, em investigações rápidas, como é o caso da covid-19, os investigadores actualizem as indicações previamente aprovadas pela comunidade científica assim que existe mais informação.
A recomendação desta sexta-feira é baseada numa nova análise, que compara os efeitos de vários tratamentos para a covid-19. Este estudo inclui dados de quatro ensaios internacionais aleatórios com cerca de 7000 doentes internados pelo mundo.
Depois de analisados os resultados, os especialistas da OMS concluíram que o remdesivir não tem efeito significativo sobre a mortalidade ou sobre outros resultados importantes para os doentes, como a necessidade de ventiladores ou o tempo de melhoria clínica.
Segundo a nota de imprensa, as provas não mostram que o remdesivir tem qualquer benefício; pelo contrário, não há provas científicas baseadas em dados actualmente disponíveis que indiquem uma melhor resposta dos doentes à covid-19 provocada pelo SARS-CoV-2.
Dada a possibilidade de grandes danos e o custo relativamente elevado associados ao remdesivir (deve ser dado por via intravenosa), os peritos consideram desaconselham assim a sua recomendação. Ainda assim, apoiam a continuação de estudos com remdesivir, para se avaliar melhor a eficácia deste medicamento.
Também na revista BMJ, o jornalista norte-americano Jeremy Hsu publica um artigo em que questiona o que vai acontecer agora ao remdesivir, uma vez que é improvável que salve vidas. A história completa do medicamento só será conhecida quando o fabricante Gilead divulgar os relatórios completos dos ensaios clínicos, escreve Jeremy Hsu, mas tudo depende de estudos futuros que avaliem a eficácia do tratamento.
O jornalista indica ainda que há uma alternativa: o barato e facilmente disponível dexametasona, que provou reduzir a mortalidade entre os doentes graves de covid-19. Este medicamento está a ter impacto nas discussões sobre a relação custo-eficácia do remdesivir.
Em Portugal, no início do mês, foi publicada, em Diário da República, a resolução do Governo de comprar 100 mil frascos do remdesivir, para tratamento de doentes com covid-19, permitindo gastos até 20 milhões de euros ainda em 2020, segundo noticiou a agência Lusa. A ministra da Saúde, Marta Temido, tinha já anunciado a compra a 22 de Outubro, referindo que Direcção-Geral da Saúde ia adquirir esse número de frascos entre Outubro deste ano e Março de 2021. Na altura, a ministra explicou que “a aquisição de mais de cem mil frascos” terá um custo total de cerca de 35 milhões de euros”, uma vez que cada um custa 345 euros.